A Aldeia da Cuada foi a vencedora da primeira edição do Prémio Nacional de Turismo na categoria Alojamento Local. Que significado teve esta distinção?
Um enorme orgulho para nós, para a nossa ilha e acho que podemos mesmo dizer que para os Açores. Demonstra todo o trabalho de uma equipa que dia após dia trabalha sempre com empenho e dedicação. Aqui gostamos que os nossos funcionários se sintam motivados e todos nós temos como foco fazer bem o básico, porque fazer bem o básico diferencia. É um reconhecimento de muitos anos de trabalho árduo, que eleva o nosso nome e faz com que as pessoas sintam ainda mais vontade de nos visitar.
Qual é a história desta aldeia e como foi transformada em alojamento local?
A aldeia tem mais de 300 anos. Este projecto de turismo rural começou com os meus pais, Carlos e Teotónia Silva, há cerca de 31 anos. Naquela altura eram vistos como “loucos” por se iniciarem em algo assim. A aldeia estava completamente abandonada, em ruínas, e eles foram adquirindo casa a casa ao longo de vários anos e, sem baixar os braços, fazendo a recuperação total das 20 casas. Hoje, a aldeia conta com 65 camas, mais de 20 funcionários e é considerada património cultural, com interesse histórico, arquitectónico e paisagístico. Há cerca de dois anos, passaram este grande projeto para mim e para o meu marido Sílvio e tem sido um enorme orgulho. Nestes dois anos, fizemos um restaurante, pois sentíamos cada vez mais essa necessidade, tanto para servir pequenos-almoços como para termos um espaço comum para os clientes. A nível exterior não queremos alterar nada, pois quem nos visita procura autenticidade. No interior das casas vamos fazendo sempre melhoramentos no que toca às comodidades e ao conforto.
Numa ilha dependente dos transportes, e muitas vezes isolada pelas condições meteorológicas, tem sido possível manter um negócio ligado ao turismo? Quais têm sido os principais entraves?
Claro que é possível, senão não existia turismo nos Açores. Acho que quem vem para cá (Açores) tem que vir com uma visão sobre tudo o que pode acontecer a nível logístico nas suas férias. Pode haver voos cancelados, pode começar a chover cinco minutos depois de um sol abrasador, termos quatro estações num dia... Mas é isto que nos faz diferentes: sermos verdes e termos uma beleza que não se encontra em mais lado nenhum do mundo. São nove ilhas, todas diferentes, mas nesta caraterística do mau tempo, quer queiram quer não, somos todos iguais. E temos de levar isto lá para fora, temos de mostrar o lado lindo deste mau tempo. As ondas enormes que podem ver, as cascatas que ficam lindas após umas horas de chuva. Aqui na aldeia, mesmo num dia de inverno as sensações são espetaculares, conseguimos ouvir a potência da água das cascatas a cair e ao mesmo tempo a rebentação das ondas. Somos Açores, somos conhecidos pelas tempestades e daí? Não podemos trazer turistas que queiram isso mesmo? As fotografias tiradas de verão são lindas, claro, mas se experimentássemos fazer publicidade com fotografias do nosso verdadeiro inverno e captar outro tipo de turista? Acho que seria interessante. Quem nos visita de verão tem de ter a ideia de que vai apanhar chuva, nevoeiro, mas, calma, após isso vai ver a ilha com outras cores. Se já foram a um certo miradouro com sol, voltem lá com nevoeiro ou chuva, é completamente diferente, talvez até mais lindo e com outra energia. Claro que há dias difíceis de gerir isto do mau tempo. Muitas vezes os clientes acabam mesmo por desistir de vir às Flores porque o avião cancelou dois dias. Aí é mau para nós, pois não temos onde ir buscar clientes para ocupar aquele espaço, mas nada podemos fazer. Quem tem negócios tem saber transformar desafios em oportunidades.
Acredita que o turismo nos Açores, e em particular na ilha das Flores, tem ainda margem para crescer?
No geral das nove ilhas ainda tem margem para crescer. O que falta saber é se será mesmo isso o futuro para os Açores. Nas Flores, em particular, estamos protegidos graças à nossa localização geográfica. O nosso isolamento tem servido para nos proteger do excesso de turismo, minimizando assim o seu impacto na natureza. Penso que o verdadeiro foco para o crescimento deveria ser para a época baixa e intermédia, melhorando assim a sustentabilidade socioeconómica. Já somos o primeiro arquipélago do mundo com o selo de turismo sustentável. Temos de refletir bem sobre este feito alcançado. Para mim, foi um enorme orgulho receber essa notícia, mas temos de a levar bem a sério. Há que saber manter a nossa marca e proteger a nossa identidade.
Na sua opinião, os Açores deveriam apostar mais neste tipo de alojamento mais pequeno e mais próximo das suas origens?
Os alojamentos mais pequenos deveriam ser o principal foco dos Açores, pois são estes que melhor fazem uma redistribuição dos seus lucros na ecomimia dos Açores e são também os que causam menor impacto ambiental. Os grandes grupos hoteleiros e o turismo de massa não deveriam ter lugar nos Açores, pois se pesarmos vantagens e desvantagens a nível ambiental, social e económico para a região veremos que a balança é desequilibrada.
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