Ilha do Corvo, o antigo refúgio de corsários e piratas
A pequena e menos populosa ilha açoriana é palco de várias histórias, incluindo as de corsários e piratas. Descubra algumas dessas narrativas e lendas que embalam a ilha do Corvo.
A origem da Ilha do Corvo, descoberta por Diogo de Teive, em 1452, incide sobre um antigo vulcão, sendo possível encontrar a cenográfica Lagoa do Caldeirão na sua imponente e ampla cratera, com exatos 2,3 quilómetros de diâmetro e 320 metros de profundidade. No litoral da ilha, alto e escarpado, situa-se o único povoado da ilha, a Vila do Corvo. Inicialmente denominada “ilha de Santa Iria”, “ilha do Marco”, “ilha de São Tomás”, “ilhéu das Flores” e, até chegar ao seu nome atual como ilha do Corvo, terá sido “Insula Corvi Marini”, a ilha dos Corvos-Marinhos.
Apenas no ano de 1548 o seu povoamento foi definitivo, aquando da autorização para que o Capitão do Donatário das Flores e Corvo, Gonçalo de Sousa, enviasse escravos da sua confiança, como agricultores e criadores de gado. Mais tarde, alguns habitantes das Flores passaram para o Corvo, aumentando a população branca, face aos escravos ali residentes.
Ilha selvagem, dedicada à agricultura, pastorícia e pesca
A ilha do Corvo não foi totalmente apetecível a Portugal quando descoberta no século XV, principalmente por ser muito isolada e não ter um porto seguro. Com o tempo, a ilha tornou-se conhecida por ser um dos refúgios escolhidos por corsários, saqueadores e piratas, que procuravam abrigar-se nas suas encostas e que faziam reféns e saqueavam casas.
Ainda hoje, a ilha preserva maioritariamente o seu estado selvagem. É um local onde não existem semáforos, hotéis ou restaurantes de fast-food, assim como centros comerciais ou um simples anúncio publicitário. Visitando a ilha, é possível perceber que na mesma apenas existem 10 quilómetros de estrada, nem toda pavimentada, e é muito comum avistar poucos carros ou motociclos e muitas carroças puxadas por animais. A Ilha do Corvo continua a viver da agricultura, pastorícia e pesca.
Negociações com corsários, piratas e a origem das lendas
Graças à sua localização isolada, os corsários e piratas aproveitavam para fazer vários ataques à ilha, embora esta tenha conseguido muitas vezes impor-se, recorrendo a negociações que garantiam água e alimentos aos homens, bem como a reparação dos navios e o tratamento dos feridos e doentes, em troca de proteção e dinheiro.
Com os embarques sucessivos de intrusos na ilha do Corvo, a valentia dos habitantes foi crescendo, acabando por imperar. Resistência, atrás de resistência, a população uniu esforços contra os invasores. Já em 1632, uma época em que a ilha sofreu duas tentativas de desembarque de piratas argelinos, cerca de duzentos corvinos arremessaram pedras até conseguir dissolver os saqueadores da tentativa de invasão.
Deste marco surge a lenda de que a padroeira Nossa Senhora do Rosário ajudou os habitantes, sendo responsável por desviar todos os tiros lançados pelos piratas, devolvendo-os em multiplicado para os barcos destes. A partir desse feito, a Santa foi rebatizada de Nossa Senhora dos Milagres e edificou-se uma igreja dedicada apenas a si, na Canada da Rocha, numa das artérias da Vila Nova do Corvo.
Dos corvinos que comiam pão de junça à dureza e valentia
A população que residia na ilha do Corvo tinha encargos altos para pagar aos seus capitães do donatário, de tal forma que viviam em grande pobreza, obrigados a comer pão de junça, já que as searas de trigo mal eram suficientes para pagar a pensão a que estavam obrigados.
No entanto, o povo corvino mostrou a sua bravura não só perante os invasores à ilha e, já no século XIX, um grupo de locais rumou à Ilha Terceira com o objetivo de aliviar o pesado tributo que pagavam ao donatário da ilha e à coroa portuguesa.
Mouzinho da Silveira, o então ministro do rei D. Pedro IV, impressionado com as dificuldades suportadas pela população da ilha do Corvo e pela coragem deste grupo em específico, propôs a anulação do imposto em dinheiro e reduziu o pagamento em trigo para metade, trazendo felicidade para os corvinos.
Passado algum tempo, a povoação foi elevada a vila e sede de concelho, designação que mantém até hoje. Anos depois, Mouzinho da Silveira escrevera no seu testamento o seu desejo de ser sepultado na ilha, “cercado de gente que na minha vida se atreveu a ser agradecida”.
A chegada dos americanos à ilha do Corvo
Foi entre os séculos XVIII e XIX que chegaram ao Corvo os baleeiros americanos. Alguns corvinos acabaram recrutados para a caça ao cachalote e, na esperança de amealharem algum dinheiro, os habitantes rumavam ao mar.
A ilha contava com cerca de 1100 habitantes no ano de 1864, com um decréscimo populacional que se vinha agravando. Já no século XX, de 808 habitantes, a Vila do Corvo viu este número cair para 370, devido à emigração para os Estados Unidos e para o Canadá.
Em 1963 chegou a eletricidade e os primeiros-cabos de telefone foram instalados na vila, substituindo as comunicações feitas por rádio, via satélite, que já substituíam os sinais de fumo que até então eram utilizados.
Em 1983 dá-se a inauguração do aeródromo do Corvo e acentua-se a modernização das estruturas, com rotas aéreas regulares com as ilhas das Flores, Faial e Terceira, a partir de 1990. A ilha do Corvo deixava de estar tão isolada.
A inconfundível ilha do Corvo hoje
O local habitado mais remoto de Portugal é, desde 2007, Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO. A menor e mais remota entre as nove ilhas que compõem o arquipélago coleciona diminutivos. Com apenas uma praia de areia, uma igreja, uma padaria, um hotel e uma casa de hóspedes, a ilha do Corvo tem uma natureza superlativa: o verde mais verde que há e o azul do mar mais intenso, tudo em contraste com as casas brancas do vilarejo à beira do Atlântico.
No Alto dos Moinhos, junto à Ponta Negra, pequenos moinhos de vento enfeitam a beira-mar. Ao contrário dos que existem nas restantes ilhas do arquipélago, estes são de influência mediterrânica, mais parecidos aos que se encontra em Portugal continental. Antes usados para fazer a farinha de milho que dá origem a uma das iguarias mais famosas da ilha, o pão de milho, hoje fazem parte da inconfundível paisagem. Além desse petisco que acompanha praticamente todas as refeições, destaca-se o queijo de vaca, feito artesanalmente a partir do leite cru e que recebe o nome da ilha.
No percurso para o Caldeirão, o ex-libris da ilha, é possível ver os muros baixos que dividem as propriedades, longas linhas de hortênsias e as manchas negras dos palheiros, as casas rústicas, feitas de basalto, onde se guardavam as alfaias e as forragens.
A ilha do Corvo é rodeada por altas falésias. O ponto mais alto da ilha é o Morro dos Homens, situado no rebordo sul do Caldeirão, com 718 metros de altura. A sudoeste encontram-se ainda duas formações rochosas a que chamam Cavaleiro e Marco e, é do Miradouro do Pão de Açúcar, no morro do mesmo nome, que é possível ter uma excelente panorâmica sobre a própria ilha, sobre a Vila Nova do Corvo e sobre a ilha das Flores.
A ilha do Corvo hoje, é um local onde o verde impera, onde todos se conhecem e entre ajudam. Não existem registos de criminalidade e tão pouco existem preocupações com desastres rodoviários. Aos transeuntes que vão de passagem, ressoa o português arcaico, ornamentado por um sotaque muito próprio e diversas expressões locais.
Fonte: Natgeo.pt
De todas as ilhas que visitei,guardo boas recordações desta, pela simpatia das suas gentes,pela pacatez,pelo silêncio especialmente a noite e pela paisagem,em resumo ADOREI.
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