Doutorado em Química Analítica pela “Columbia University”, nos Estados Unidos da América e Professor da Universidade dos Açores, José Baptista é autor e co-autor de centenas de trabalhos que incidem na área dos produtos naturais e na ciência dos alimentos, sendo actualmente responsável, conjuntamente com a investigadora Lisete Paiva, por um estudo cujo objecto de estudo é o chá dos Açores, cujos benefícios para a saúde humana se têm vindo a comprovar.
Mais recentemente, a dupla de investigadores dedicou-se a analisar os vários estudos que têm vindo a ser desenvolvidos em todo o mundo relativamente ao combate à pandemia, procurando por evidências científicas que comprovem a influência positiva de substâncias naturais que possam impedir a propagação deste vírus enquanto o processo de vacinação a nível mundial não se encontra completo.
Em acréscimo, tendo em conta as descobertas que têm vindo a ser feitas a nível internacional e que iremos identificar nesta reportagem, o grupo de investigação da Universidade dos Açores encontra-se também “a estudar as condições de determinação e quantificação dos componentes da Camellia sinensis com potencial interesse para a saúde humana e, consequentemente, para a redução dos efeitos negativos da Covid-19”, diz José Baptista, referindo por isso mesmo que seria importante continuar esta investigação.
Entretanto, José Baptista e Lisete Paiva terão encontrado indícios de que também os componentes do chá da Camellia sinensis, planta que está na origem do chá verde, podem representar uma redução significativa na replicação viral do SARS-CoV-2, demonstrando, de acordo com as evidências científicas reunidas, que a solução para evitar a propagação do vírus pode estar numa simples chávena de chá.
Conforme refere o professor universitário, o primeiro trabalho científico que captou a sua atenção por referir material existente na ilha de São Miguel foi apresentado por um grupo de investigadores da State University, localizada na Carolina do Norte, quando Zhu e Xie “focaram a sua atenção na prospecção de moléculas inibitórias das protéases”, sendo uma delas a “enzima chave do coronavírus que desempenha um papel fundamental nos processos da mediação, replicação e transcrição viral”.
De acordo com este estudo, os investigadores em causa utilizaram uma tecnologia referida “Docking Simulation”, o que lhes permitiu encontrar compostos que pudessem ser “encaixados/atracados” na estrutura da enzima do vírus, “inibindo a sua actividade e, consequentemente, bloqueando o processo de replicação viral do SARS-CoV-2, reduzindo assim a infecção provocada por este vírus”.
Para isso, e entre uma biblioteca de milhares de compostos naturais, estes investigadores descobriram que substâncias presentes no cacau e no chocolate preto, nas uvas muscadines “e, sobretudo, no chá verde da Camellia sinensis “encaixavam” perfeitamente na estrutura da protéase, inibindo a sua actividade proteolítica e, portanto, retardando/eliminando a replicação viral e o processo de infecção e, consequentemente, reduzindo o efeito pandémico da devastação provocada pela SRAS-CoV-2”, explica o professor e investigador da Universidade dos Açores ao nosso jornal.
O segundo trabalho científico que segue a mesma linha de pensamento foi apresentado também no ano passado, desta vez pelo Departamento de Imunologia da Faculdade de Medicina da Prefectural University de Kyoto, no Japão, por Ohgitani e outros investigadores.
Este trabalho observou “o facto de que no Japão e em outros países da Ásia, onde o consumo de chá é muito elevado, houve um número de casos de infecção por SARS-CoV-2 por mil habitantes muito menor quando comparado com outros países, caso de alguns países da Europa”, adianta José Baptista.
Isto é, enquanto países como o Japão e o Sri Lanka contam com cerca de três casos positivos de infecção pelo novo coronavírus por cada mil habitantes e países como o Taiwan contam com 0.04 de casos positivos para este vírus em cada mil habitantes, Portugal conta com 72.10 casos positivos de infecção pelo novo coronavírus na mesma proporção, mil habitantes, seguindo-se Espanha, com 61.22 casos positivos por cada mil habitantes e Itália com 42.92 casos positivos por cada mil habitantes.
Em comum, os países enumerados com os números mais baixos relativamente a casos de infecção pelo SARS-CoV-2 por cada mil habitantes têm o facto de serem ávidos consumidores de chá, para além “de se admitir que tenham adoptado medidas de controlo sanitárias mais eficazes”.
Estudo japonês demonstra que o chá parece inactivar o vírus
“Perante esta constatação, os investigadores da Universidade de Kyoto desenvolveram a sua investigação, determinando os efeitos dos componentes do chá da Camellia sinensis, na redução da proliferação do SARS-CoV-2, pelo facto destes compostos estarem disponíveis, quer para os pacientes, quer para pessoas saudáveis e poderem ser ingeridos com segurança”, explica José Baptista.
De acordo com os estudos que o investigador açoriano tem desenvolvido, quer em conjunto com Lisete Paiva quer por sua própria conta, “é do conhecimento geral, que o chá da Camellia sinensis tem efeitos benéficos para a saúde humana, tais como: prevenção de neoplasias, de doenças cardiovasculares e de doenças inflamatórias, entre outras, sobretudo, devido ao impacto dos polifenóis, particularmente das catequinas, que são responsáveis por muitos dos seus efeitos biológicos”, devido à sua elevada actividade antioxidante.
Nas experiências da Kyoto University, prossegue o investigador, o material liofilizado de cada tipo de chá, após o ajustamento da pressão osmótica pela adição de 2x DMEM (Dulbecco’s Modified Eagle’s Medium – Meio de cultura celular) foi usado para um pré-tratamento do vírus durante um minuto, sendo as misturas de vírus/chá/DMEM imediatamente diluídas 10 vezes para os ensaios seguintes.
O segundo passo da experiência foi a adição da mistura vírus/chá/DMEM às células VeroE6/TMPRSS2 durante uma hora. Os valores obtidos revelaram que o chá preto inactivou fortemente o SARS-CoV-2, seguido pelo chá verde, e chá oolong. Seguidamente o vírus foi tratado com várias doses de cada chá e a viabilidade da infecção das células foi estimada pelo teste -WST-based analysis”, explica.
Deste modo, os resultados das experiências em causa demonstram que o chá verde, o chá preto e o chá oolong “impediram o SARS-CoV-2 de infectar as células VeroE6/TMPRSS2 (resultados dependentes de cada dose), confirmando que os vários tipos de chá inactivaram claramente o vírus”, clarifica ainda o investigador.
Após estes resultados, os investigadores japoneses procuraram identificar os componentes do chá que estiveram envolvidos no efeito anti-viral, testando algumas das componentes funcionais do chá da Camellia sinensis que demonstraram de forma científica a acção da EGCG do chá verde.
Em acréscimo, os investigadores da Universidade de Kyoto concluíram ainda que, tendo em conta que as infecções do trato gastrointestinal são referidas como uma característica importante da Covid-19, “a ingestão de chá verde e chá preto, conforme foi cientificamente confirmado, inibiu a replicação viral nesta parte importante do organismo”, adiantando-se que ao “gargarejar com chá (verde ou preto) várias vezes durante o dia estamos efectivamente a bloquear a transmissão por SARS-CoV-2 de pessoa para pessoa por eliminação dos virions na saliva”, conclui.
Fonte: Correio dos Açores
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