O arquipélago dos Açores é um dos melhores destinos do mundo para observação de cetáceos, com as águas atlânticas a acolherem uma enorme diversidade de vida marinha durante todo o ano. Cachalotes, golfinhos e baleias azuis, estão entre os visitantes das ondas ao largo da ilha Terceira.
Poucas emoções superam o avistamento de um cachalote a emergir das águas
profundas dos Açores. Afinal, esta espécie é o maior animal com dentes do
mundo, que pode chegar aos 18 metros de comprimento e 55 toneladas de peso.
Entre “ahhhs” e “ohhhs”, as câmaras fotográficas registam o momento para a
posteridade. Tal como o cachalote, é entusiasmante ver o enorme dorso de uma
baleia azul ou a barbatana de um grande cetáceo a chapinhar. Comparável a essa
emoção, só mesmo um grupo de golfinhos - dezenas ou mesmo centenas deles -
nadando e saltando junto ao barco. Quando se aproximam, amigáveis e curiosos,
com a pele macia brilhante e ar sorridente, conseguimos ouvir a sua
respiração.
A observação de cetáceos é uma atividade que conquista cada vez mais adeptos
nas ilhas, dando a conhecer a enorme biodiversidade que ali habita. Os
Açores são considerados, aliás, um dos melhores lugares do mundo para esta
atividade.
Entre as espécies residentes, que podemos encontrar durante todo o ano,
figuram o referido cachalote, bem como os golfinhos comuns, riscados, roazes
e de risso. Já as espécies migratórias incluem os maiores animais do mundo,
como a baleia azul. Na primavera, os Açores funcionam como “uma enorme
estação de serviço, onde os animais descansam, alimentam-se e depois seguem
viagem”, compara Breno Toste, biólogo marinho e sócio-gerente da
OceanEmotion, em Angra do Heroísmo, Terceira.
No verão, o movimento aumenta com a chegada de várias espécies tropicais,
como os golfinhos pintados, baleias piloto e falsas-orcas, entre outros. No
outono, que marca o final da migração, “há sempre um regresso, já não tanto
para alimentação, mas para reprodução”. No final do inverno, aparecem por
vezes as orcas. “É uma surpresa em cada saída”, garante Breno, que chegou a
avistar, num só dia, oito espécies entre as 27 registadas.
"ENTRE AS ESPÉCIES RESIDENTES, QUE PODEMOS ENCONTRAR DURANTE TODO O ANO,
FIGURAM O CACHALOTE, BEM COMO OS GOLFINHOS COMUNS, RISCADOS, ROAZES E DE
RISSO."
E depois, claro, podemos testemunhar toda a vida marinha de menor dimensão,
mas igualmente admirável pela variedade e quantidade: peixes e raias,
tartarugas, caranguejos, caravelas-portugueses e até alguns tubarões.
Outra área da empresa sediada na Terceira é a natação com golfinhos, uma
experiência única que leva as pessoas a mergulhar no mar junto dos simpáticos
mamíferos marinhos, nadando com eles de forma responsável, segura e não
ameaçadora. O biólogo marinho chama a atenção para o código de conduta que
proíbe o contato físico e reduz o ruído ao mínimo, para não causar stress nos
animais. Por outro lado, nos Açores é proibido nadar com baleias. Apenas pode
mergulhar quem tiver licença do governo, para investigação científica ou
profissional. É o caso de estudos de mestrado ou doutoramento relacionados com
hidrofones ou experimentação de boias, ou equipas de gravação audiovisual,
refere Breno Toste. Nesta área protegida, criou-se assim um santuário em mar
aberto, seguro para os animais selvagens e de comportamento imprevisível.
Num ano marcado pela pandemia, os turistas diminuíram, mas os terceirenses
aderiram em força aos avistamentos de cetáceos, às viagens de barco ao pôr
do sol e aos Ilhéus das Cabras, duas ilhotas que resultam da erupção de um
vulcão, a cerca de 20 minutos do porto de Angra. Os Ilhéus estão
classificados como área de proteção especial pela presença de aves marinhas
protegidas, como o cagarro e o garajau.
Apesar da redução de número de clientes, a OceanEmotion está confiante no
potencial dos Açores - e da Terceira em particular - para atrair mais
pessoas assim que a situação melhorar. Afinal, esta não é a primeira
dificuldade que a empresa enfrenta, lançada no rescaldo da crise de 2008 por
Paulo Fernandes, 43 anos. Além disso, “a Terceira tem sítios únicos no mundo
como o Algar do Carvão”, exemplifica Breno. “Há um equilíbrio entre o
turismo ativo, gastronómico e cultural. Não é um destino de massas, mas não
está isolado do mundo”.
Texto: Ana César Costa
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