Em tempos diferentes devido à pandemia da Covid-19, em que não são aconselhadas pelo Governo viagens de férias para destinos longínquos, o lema 'vá para fora cá dentro' ganhou ainda mais relevância. De Norte a Sul, sem esquecer as regiões autónomas da Madeira e dos Açores, muitos são os portugueses que este ano reservaram alojamentos locais, hóteis e casas rurais para redescobrir Portugal. E basta uma rápida pesquisa nas redes sociais para nos apercebermos de que muitos estão a ser surpreendidos pelas belezas naturais (e não só) que ainda não conheciam no território nacional.
Contudo, há alguns procedimentos que deve ter em atenção. Se não sair do Continente, pode viajar sem fazer testes, mas nunca esquecendo as normas de segurança para evitar a propagação do coronavírus. A máscara, o distanciamento social, a proibição de aglomerados, a desinfeção das mãos e restantes medidas de higiene não podem ser descuradas nem nos dias de descanso, porque a Covid-19 continua aí.
Mas para viajar até aos arquipélagos dos Açores e da Madeira terá de se submeter a testes à Covid-19 e cumprir várias regras. Apesar deste 'inconveniente', tudo é gratuito, fácil e rápido.
Marcação de testes
Tem a viagem marcada e paga? Se sim, este é o próximo procedimento a ter em conta.
Para viajar para os Açores tem três opções:
1) Apresentar teste negativo para a Covid-19, realizado nas 72 horas antes do embarque, em clínicas certificadas (o Governo dos Açores fez uma parceria com 139 laboratórios, espalhados um pouco por todo o país, onde pode fazer o teste gratuitamente, consulte a lista aqui). E realizar um segundo teste, se ficar mais de sete dias no arquipélago.
2) Realizar um teste à chegada à região e ficar em isolamento profilático até ser informado do resultado, o que pode demorar até 48 horas. E também terá realizar um segundo teste, se ficar mais de sete dias no arquipélago.
3) Regressar ao local de origem do seu voo ou viajar para qualquer aeroporto para fora da Região Autónoma dos Açores, cumprindo, até à hora do voo, isolamento profilático em hotel indicado para o efeito.
Se se recusar a cumprir estas regras, pode ser alvo de uma queixa crime por parte das autoridade de saúde regional.
O Notícias ao Minuto optou pela primeira escolha para poder começar a descobrir a ilha das Flores sem perder tempo. O processo foi bastante fácil e rápido. Basta escolher o laboratório da lista apresentada pelo Governo dos Açores que lhe der mais jeito e ligar a marcar o dia e a hora do teste de despiste. Durante a chamada indique que vai viajar para os Açores e envie (por e-mail) o comprovativo de pagamento da viagem, assim como a passagem.
O Notícias ao Minuto marcou o teste, num laboratório de Lisboa, cerca de uma semana antes do embarque.
O primeiro teste
Teste é feito com recurso à zaragatoa© Global Imagens
Chegou ao dia do primeiro teste. Estava marcado para o 12h, mas chegamos uns minutos antes. O relógio apontava 11h54. Entramos (de máscara), preenchemos uma ficha com os nossos dados e vimos uma pessoa a sair de lágrimas nos olhos de uma das salas. Nesse momento, os 35ºC que se faziam sentir em Lisboa nesse dia, transformaram-se em 50ºC e sentimos o coração a acelerar. Ainda de olhos postos no mesmo cubículo, vimos a enfermeira a desinfetar a cadeira, a mudar de máscara, de luvas e a substituir todos os utensílios (não necessariamente por esta ordem). Às 11h58, foi a nossa vez.
Sentados na cadeira. A enfermeira pede para baixar a máscara e tenta sossegar-nos. “É rápido e menos doloroso do que parece”, garante. E coloca entre 6 e 8 centímetros da zaragatoa na primeira narina até chegar à orofaringe, onde a concentração de vírus poderá ser maior. O desconforto faz-nos recuar a cabeça, lacrimejar e tossir, mas não dói. É apenas incómodo.
Segue-se a segunda narina. Tão rápido que um minuto depois de ter entrado no consultório, às 11h59, estávamos a sair da clínica.
Os resultados
Os resultados dos testes à Covid-19 são enviados via e-mail para o utente e para a autoridade de saúde dos Açores até 48 horas após a sua realização. O Notícias ao Minuto recebeu eram 23h06 do mesmo dia, menos de 12 horas depois de ter feito o teste. Com o resultado negativo nas mãos, chegou a hora de fazer as malas.
No aeroporto
A partir do momento que entra no aeroporto não deve tirar a máscara até ao fim da sua viagem, salvo raras exceções, como para comer e beber.
À chegada, duas horas antes do voo, reparamos logo na ausência de passageiros nos balcões de check-in. A diferença entre o tráfego do período homólogo (julho de 2019) é como passar de 8 para 80, ou melhor, de 80 para 8. Não há filas, as pessoas chegam e são atendidas.
Aeroporto de Lisboa mais calmo em tempos de pandemia© Global Imagens
Já ao balcão, a funcionária da companhia aérea informa-nos de que, ao contrário do que acontecia até agora, ou seja, antes da pandemia chegar a Portugal, as malas têm de ser recolhidas nas ilhas onde se faz escala e os passageiros têm de fazer novamente check-in para a ilha escolhida como destino de férias.
Antes de finalizar o check-in, a funcionária pede-nos para baixar a máscara por milésimos de segundo, para mostrar a cara, de forma a confirmar que corresponde à foto o cartão do cidadão. Algo que se volta a repetir sempre que é necessário confirmar a identidade.
Malas entregues e seguimos pelo aeroporto até à porta de embarque. Por todo o espaço estão distribuídos dispensadores de gel desinfetante e veem-se alguns funcionários da empresa de limpeza.
Também ao contrário do que acontecia antes da Covid-19, há muitas lojas fechadas e só alguns cafés estão abertos.
Voo para a Horta (onde fizemos escala)
Tudo prossegue sem atrasos e demoras, com as devidas distâncias sociais e com máscaras no rosto. A prioridade agora é dada, não só às crianças, idosos e pessoas com deficiência, como também a quem não tem mala de cabine, ou tem apenas um pequeno acessório para guardar o telemóvel e a carteira.
À entrada do avião, o staff entrega uma declaração onde deve assinalar a opção escolhida para entrar na região e preencher os seus dados, declarando assim, por sua honra, que está a cumprir todos os parâmetros que o Governo dos Açores decretou para evitar a propagação do novo coronavírus na região. Esta será entregue às autoridades na ilha em que aterrar.
Já dentro do aeronave, é possível verificar que nem 50% dos assentos estão preenchidos. Sentimo-nos seguros, mas preocupados com o reflexo do que se passa no turismo, alojamento, restauração, aviação. Com a economia, em geral.
Durante o voo, ao contrário do que acontecia nos outros anos, já não é entregue nenhuma refeição. Apenas uma garrafa de água.
Chegada à Horta
Aterramos nos Açores, na ilha do Faial, depois de deslumbrar, a espreitar por cima das nuvens, o ponto mais alto de Portugal, a montanha do Pico. No Aeroporto da Horta tudo está devidamente sinalizado e com agentes da PSP a ajudarem quem se sente mais perdido. As setas levam-nos primeiro ao desinfetante e, depois, a uma sala para recolher a bagagem.
Já com as malas, seguimos para o estacionamento do aeroporto, onde foi instalada uma tenda da autoridade de saúde regional. Ali um polícia assegura que todos cumprem as distâncias de segurança e têm as máscaras colocadas (e que não fogem, sem cumprir os requisitos atrás mencionados). E, atenção, não se pode fumar.
A entrada na tenda faz-se de duas formas. De um lado, quem traz um teste à Covid-19 feito e com resultado negativo. Do outro, quem tem de fazer na região e ser encaminhado para o alojamento onde vai permanecer em isolamento profilático até obter o resultado.
Os documentos são validados nesta tenda, onde nos é fornecido um papel para entregar no novo check-in a confirmar o resultado negativo do nosso teste e o número de contacto da autoridade de saúde do concelho onde ficará alojado na ilha de destino para marcar o segundo teste (se ficar mais de sete dias nos Açores).
Chegada às Flores e segundo teste
Com tudo confirmado, segue-se o segundo check-in, novamente, sem pessoas a formar filas. Mais de três horas depois (que são obrigatórias agora, se fizer escala em alguma ilha), seguimos para a sala de embarque.
Com dois voos a saírem quase à mesma hora, aqui se juntaram algumas dezenas de pessoas, todos com máscaras. O avião, bem mais pequeno que o anterior, segue cheio desta vez rumo às Flores, sem ser possível cumprir a distância social.
Cerca de 40 minutos depois, a chegada às Flores é feita de forma pacífica. Aterrado o avião e recolhida a bagagem é tempo de ligar para o centro de saúde e marcar o segundo teste, seis dias depois de ter realizado o primeiro.
Segundo teste (e boas férias!)
Ao contrário do que acontece no arquipélago da Madeira, onde para entrar apenas é necessário um teste com resultado negativo, o Governo dos Açores decidiu que, quem permanece mais do que sete dias na região, tem de se submeter a uma segunda análise. Para isso basta ligar para o centro de saúde e indicar o dia em que deve ser feito o teste.
Seis dias depois do primeiro e quatro dias após a chegada às Flores, o segundo teste foi feito desta vez num contentor, localizado nas traseiras do centro de saúde de Santa Cruz, por enfermeiros equipados e com o mesmo rigor e higiene que o primeiro. Utente após utente, tudo desinfetado e com substituição de material.
A rapidez do teste é também a mesma. Em poucos minutos ficamos despachados para voltar a aventurar-nos pela ilha.
No dia seguinte, o resultado do teste chega-nos por SMS. Uma da unidade hospitalar e outra do remetente ‘CovidAçores’.
Processo pronto, é tempo de aproveitar os restantes dias de férias. Para regressar ao Continente, não são necessários testes, no entanto, já sabe: cumpra todas as medidas recomendadas pela Direção-Geral de Saúde (DGS) e Organização Mundial de Saúde (OMS) por sua segurança e de todos.
Para mais informações consulte a página do Governo Regional dos Açores sobre a Covid-19 e deslocação de pessoas no arquipélago.in noticiasaominuto.com
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