terça-feira, 20 de agosto de 2019

Turistas procuram os Açores para fazer pilates e yoga em pranchas no mar



Uma luso-canadiana leva todos os anos um grupo de norte-americanos à ilha Terceira, onde nasceu, para um retiro de “sup joga”, uma mistura de yoga e pilates feita em cima de pranchas no mar.

À dificuldade dos exercícios de yoga e pilates junta-se a necessidade de manter o equilíbrio numa prancha insuflável, que vai balançando ao sabor das ondas, mas é isso que torna a modalidade divertida, segundo Joana Meneses, instrutora de yoga e pilates há 18 anos.

“Faz parte cair, por isso é que é joga, de jogar. A gente puxa pela filosofia da yoga e pela anatomia do pilates, mas também é brincar, é mexer com as pranchas e ver se a tua amiga ao teu lado pode cair na água. A gente diverte-se”, descreve, em declarações à Lusa, antes de iniciar mais uma aula na piscina do hotel em que o grupo fica alojado.

Há quatro anos que no verão Joana troca Nova Iorque, onde reside há mais de duas décadas, pela ilha em que nasceu, para das aulas de ‘sup joga’ a locais e a turistas na sua “malmequer”, um conjunto de 10 pranchas ligadas, em forma de flor, a outra no centro, a partir da qual vai demonstrando o que fazer.

Este ano, as inscrições para o retiro de sete dias superaram o número de vagas (e o número de pranchas disponíveis), com 11 participantes não só dos Estados Unidos da América, mas também da Alemanha e da ilha Terceira.

Para além do sup joga, o retiro inclui aulas de yoga e pilates ao ar livre, percursos pedestres, atividades náuticas, como observação de cetáceos, e jantares de gastronomia tradicional, para que os participantes tenham uma verdadeira “experiência açoriana”.

Kari Hansbarger conheceu Joana no prédio em que as duas moravam em Nova Iorque e, depois de integrar a sua turma de pilates, ajudou-a a desenvolver o programa ‘sup joga’ na água.


Há três anos que não perde o retiro na ilha Terceira, mesmo que este ano tenha cedido a prancha a uma amiga que queria experimentar a modalidade.

“Eu volto, não só pelo retiro, volto porque me apaixonei pelas pessoas. Elas são tão generosas. Apaixonei-me pela cultura, pela comida, pelo oceano, por tudo. É como voltar atrás no tempo, com todas as coisas que amamos sobre família e amigos. Há aqui qualquer coisa de muito especial e diferente, que eu não encontrei em lado algum em todas as minhas viagens”, salienta.

Natural da ilha Terceira, Sandra Canto experimentou as aulas de yoga e pilates no tapete, em 2016, e há dois anos que integra também o retiro junto com os turistas.

Diz que a aula tem benefícios para o corpo e para a mente e que é tão divertida que faz exercício sem dar por isso, ainda que no dia seguinte sinta dores.

“A primeira aula que eu tive com a Joana foi no jardim da Praia da Vitória. Eu estava a passar uma fase complicada da minha vida e aquela aula fez com que eu descobrisse o que eu queria verdadeiramente para a minha vida”, conta.

Joana Meneses saiu dos Açores com dois anos, quando os pais decidiram emigrar para o Canadá, mas os verões eram passados com frequência na terra natal e nunca perdeu o contacto com as raízes e com a língua.

“Sinto-me muito abençoada. O meu pai era tanto chegado à sua terra, à sua Terceira, que nunca deixou os filhos esquecerem a sua língua, a sua cultura, a sua família… E é por causa disso que eu agora posso voltar. Tenho amigos desde a infância, que acreditam muito neste programa. É a única maneira de eu poder fazer isto, porque isto dá muito trabalho”, apontou.

É numa mistura de português e inglês que conta como teve a ideia de criar o retiro na ilha Terceira, em 2015, numa ida à praia da Riviera, na Praia da Vitória, com o pai, que veio a falecer pouco depois com cancro.

“No verão, é sol e mar, mas no inverno fica um bocadinho mais frio, não se pode estar sempre na praia. Nesse dia, com o meu pai, eu disse: mas porque é que eu não posso vir nos verões e trazer pessoas para a minha terra”, relata.

Quando regressou aos Estados Unidos, falou com amigos surfistas e desenhou as pranchas insufláveis, em forma de malmequer – a flor preferida da mãe –, que mandou fazer numa empresa francesa.

Podia ter levado as pranchas para qualquer parte do mundo, mas é nos Açores que se sente “em casa”, pela forte ligação que mantém com as pessoas e com a natureza.

Este ano, decidiu deixar Nova Iorque, para onde partiu há 22 anos com o sonho de ser atriz, e instalar-se em Lisboa, no inverno, e na Terceira no verão.

“O meu objetivo é estar aqui na Terceira e dar aulas aos locais de meados de junho, quando o tempo fica bom no mar, até meados de setembro. E depois no inverno vou tentar trabalhar em Lisboa com exercício físico, pilates e yoga, mas nós já estamos a criar uma prancha que é interior, que obrigue a equilibrar como na água, mas que possamos fazer dentro de casa, para fazer retiros no inverno”, avançou.

No próximo ano, quer dar formação para que o programa que chama de Liquid Roots Sup Joga chegue a outros países, aumentar o número de retiros para quem chega de fora e criar retiros mais pequenos para os habitantes da ilha, que também já se deixaram conquistar pela modalidade.

“Os locais dizem-me: nunca pares de fazer o que estás a fazer, Joana”, revela, acrescentando que antes de chegar à ilha já a contactam nas redes sociais a perguntar quando regressa.

Fonte: jornalacores9

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