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Casal português vive (quase) auto-suficiente nos Açores

Não são "fundamentalistas", mas é 'fora da rede' que vivem Ricardo, Mafalda e o seu filho, Joaquim, numa casa móvel, construída pelo casal, totalmente autónoma, que vive do sol e da chuva.
São 45 metros quadrados de uma "pequena grande casa" de madeira, como lhe chamaram, rodeada por um terreno de 960 metros quadrados, nos Fenais da Luz, no concelho de Ponta Delgada (Açores).

Nele cabem o Ricardo Pereira e a Mafalda Fernandes, com o filho de 3 anos (ainda que ele esteja convencido de que são 5), o Joaquim, o Pi e a Branca, dois cães resgatados, e a Bebé, a gata que "mora no muro", como diz o Joaquim, já que o Pi não lhe dá descanso.

A casa é móvel e é feita por três módulos de 15 metros quadrados cada um, assentes em dois atrelados de vacas. O módulo da direita alberga dois quartos, o da esquerda a casa de banho e a cozinha, e é no central que fica a sala. Na construção da casa e dos móveis, usaram madeiras locais, como acácia, metrosídero e criptoméria.



O casal gastou 50 mil euros até ao momento, já com a compra do terreno.
© Eduardo Costa / LUSA


Todo o espaço é alimentado por 12 painéis fotovoltaicos de 3,3 kilowatts (kw) e um sistema de armazenamento de energia feito com baterias de carros elétricos recicladas, de 10,8 kw. A água que consomem vem da chuva ou, quando ela falta, dos bombeiros locais, e é depois filtrada.

"Não estamos ligados à rede, nem de água, nem de eletricidade. Nós não somos fundamentalistas do 'off the grid' ('fora da rede'), estamos assim porque não temos outro remédio", afirma à Lusa Ricardo Pereira.

O abastecimento de água, em anos como este, não é grande problema. "Chegamos a ter 1.500 litros este verão e, com estas chuvadas, já temos os tanques novamente cheios", apontou.

Em anos de seca, como 2018, em que "estava tudo seco, foi horrível, o milho não cresceu, foram pelo menos quatro meses sem chuva". Nesse caso, "chama-se os bombeiros para encher os tanques, que é como as pessoas fazem com as piscinas". Um problema que fica resolvido por 50 euros.

O objetivo é transformar a horta numa agrofloresta.
© Eduardo Costa / LUSA


A água é depois tratada por um sistema com contador, que filtra os químicos, bactérias e vírus, e faz a esterilização, "mata todos os microrganismos que possa ter".

Ricardo é de Beja, mas cresceu em Setúbal; Mafalda nasceu em Lisboa e cresceu entre Almada e Sesimbra. Conheceram-se num talho, diz Ricardo, despertando risos, e logo explica que foi num talho reaproveitado para artistas, um dos espaços onde Mafalda organizava conversas e tertúlias, há sete anos.
Em 2012, Mafalda levou as conversas até São Miguel, a convite do festival de arte Walk&Talk. Na altura, diz, Portugal estava mergulhado na crise -- "em Lisboa, se calhar, sentia-se muito mais", o que os motivou a sair.

Foram para a ilha de São Miguel em 2013, depois de Mafalda ter sido convidada para trabalhar numa unidade de turismo rural.

A ideia de construir uma casa de raiz, que fosse totalmente autónoma, surgiu por "necessidade", porque aquela era a única maneira que tinham de estar naquele terreno, já que fica numa zona florestal, onde não é permitida a construção.
Com os conhecimentos que foram recolhendo em vídeos do Youtube, ou em livros que encontravam na internet, bem como com o apoio de amigos e de gente que nem conheciam, mas acorria com respostas às dúvidas ou com dicas sobre que materiais usar, Ricardo e Mafalda construíram uma casa, onde vivem desde 15 de dezembro de 2018, e todo o sistema que a abastece.

Usam água da chuva no dia a dia. Se não for suficiente, recorrem aos bombeiros.
© Eduardo Costa / LUSA


Têm ainda uma horta, que esperam que um dia seja uma agrofloresta, seguindo um modelo de permacultura.

Agora, têm plantados tomate zebra, que "fica sempre verde", explica o Joaquim, apontando também os "tomatinhos de tigre, que são 'pecaninos'", milho azul, milho roxo e novamente tomate tigre, para prosseguir depois na busca de novas espécies vegetais, como a cenoura roxa, o feijão, o chá (que fazem com as folhas de erva-cidreira e lúcia-lima), o milho amarelo, ou as abóboras, que "estão por todo o lado".
"Está aqui um morango", descobre, por fim. Mas ainda "estão pequeninos e não se pode comer", um infortúnio que também acontece com a salsa, que ainda tem de ficar "mais maior" antes de ser consumida.

Sobre quando poderá o plano para a horta estar a funcionar em pleno, Ricardo atira que será daqui a "30 anos", mas o seu riso e o "que exagero!" exclamado por Mafalda mostram que a estimativa é, de facto, excessiva. Por isso, retifica - mais um par de anos.

Para adubar a horta, têm um sistema de compostagem de lixo orgânico e outro para as fezes, que separam da urina através de uma sanita seca.
"Habituamo-nos a ter tudo de mão beijada, a ter tudo quando queremos. Para combater esta questão climática e melhorarmos a nossa relação com a natureza, é passarmos a viver com a natureza e não da natureza", rematou Ricardo.

Das cinco casas por onde já passaram desde que vivem nos Açores, esta "é, de longe, a mais confortável". "Em todas as casas em que estivemos, as casas tinham problemas de humidade, mas aqui, como está elevada do chão, a casa acaba por respirar a toda a volta", concretizou.
Vivem confortavelmente. A energia que geram serve a máquina de lavar loiça, a máquina de lavar e secar roupa - chega mesmo para ter as duas a trabalhar simultaneamente -, e até dá para alimentar a Bimby.

Até hoje, incluindo o valor do terreno, investiram 50 mil euros na casa. Falta-lhes construir o sofá, aumentar o sistema fotovoltaico para permitir carregar um segundo carro elétrico e começar a produzir o próprio gás, com o biodigestor que já compraram.
Fonte: DN

12 comentários:

  1. Sempre pensei que os açorianos,tambem eram portugueses?
    ((CASAL PORTUGUÊS VIVE (QUASE) AUTO-SUFICIENTE NOS AÇORES))

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    1. E onde e que a frase diz o contrario? -_-"

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    2. Eu sou português mas com muito orgulho de ser açoriano e não continental

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    3. Realmente não sei porque dizem "Português", se fossem de outra nacionalidade sim, faria sentido... será porque normalmente estas situações estão mais ligadas a estrangeiros que vêm para países como Portugal com o novo movimento FIRE? Por exemplo, no centro de Portugal vê-se muito disso, aliás Castelo Branco e Coimbra está cheio de Holandeses, Belgas, Alemães e Ingleses que fugiram de uma vida de stress e reduziram um pouco a sua vida para passarem o resto da sua vida assim, de uma forma mais natural. Talvez seja por isso que o autor deste artigo referiu este pormenor.

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    4. Qual é a dúvida no título? Casal português vive auto-suficiente nos Açores, como poderia ser no Porto, em Lisboa, Braga, etc... A sua interpretação é que não foi correta! O título identifica que são portugueses (poderia ser um casal estrangeiro) e refere em que local vivem (Açores).
      Eu sou portuguesa, sou do Porto e não me sinto continental...simplesmente portuguesa!!!

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  2. Ele apenas Esta a indicar de onde este Casal Portugues vive; de onde estas Noticias ocorreram. Acores faz parte de Portugal, mas se referindo onde ocorreu estas Noticias nao tem erro nenhum.

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  3. O "Diário de Notícias" já teve melhores dias. Deveria ser "Casal continental. O que é que são os açorianos? Casais portugueses são todos os nossos.

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  4. Vamos comentar o que importa, a iniciativa!!! O resto é cantigas!!!

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  5. Esse casal e um exemplo de utilização de energias renováveis...vivem bem (dentro do possível) e deixam uma grande pegada ecológica...devíamos todos ser como eles e transformar essas ilhas lindas num paraíso ecológico

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  6. Exato. A dor da humanidade é perder-se no entendimento do feudal. Um passo à frente, por favor! Que magnífica decisão!

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  7. Adorei ler toda a historia parabens ao casal

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