quinta-feira, 2 de maio de 2019
Touradas à corda da ilha Terceira explicadas a turistas
As touradas à corda da ilha Terceira, nos Açores, têm cada vez mais turistas, por isso, este ano foi criada uma campanha para explicar como funcionam, mas também para alertar para os cuidados de segurança necessários.
"Com o aumento do turismo, nós sentimos que houve algumas peripécias com alguns turistas, por não saberem estar na tourada à corda, e sentimos a necessidade de fazer algo", adiantou, em declarações à Lusa, a presidente da Associação Regional de Criadores de Toiros de Tourada à Corda, Sónia Ferreira.
A época de touradas à corda arranca hoje na ilha Terceira e até 15 de outubro são esperadas mais de duas centenas de manifestações taurinas, que ao contrário das touradas de praça, se realizam nas ruas, em percursos limitados por riscos e encerrados ao trânsito.
Os touros são amarrados por uma corda, segurada por pastores, e a população assiste, de forma gratuita, nas janelas e varandas das casas, mas há quem se arrisque a ver na rua e até a brincar com o touro, o que por vezes pode passar a mensagem errada a quem chega de fora.
"O terceirense está muito à vontade no arraial e isso transmite às pessoas que vêm de fora que é uma coisa sem perigo e não é. Quando eles veem os nossos capinhas a capear [enfrentar o touro com capas], parece que aquilo é fácil e não é, por isso é que é importante explicar-lhes os possíveis perigos", salientou Sónia Ferreira.
A campanha, que integra cartazes, vídeos e panfletos, em português, inglês e castelhano, aconselha, por exemplo, as pessoas a chegarem cedo ao arraial para encontrarem um sítio alto onde possam assistir à tourada em segurança e lembra que os intervalos entre cada touro (quatro no total) são curtos, por isso, não é prudente sair à rua.
Por outro lado, alerta para os cuidados a ter junto dos riscos que delimitam o percurso, para onde correm dezenas de pessoas em simultâneo quando o touro se aproxima.
Quem opta por assistir na rua deve ter cuidado para não se deixar apanhar pelo touro, mas estar atento também à corda para não tropeçar.
Entre outras informações, os vídeos e panfletos explicam como saber se o touro está na rua, através dos foguetes: um foguete indica que o touro vai sair da gaiola de madeira em que é transportado para o arraial e dois foguetes que o touro vai ser recolhido.
A campanha, ilustrada pelo terceirense Bruno Rafael, conta ainda a história da tourada à corda e destaca os cuidados que os criadores têm com o bem-estar do animal, como o descanso mínimo obrigatório entre touradas e a prestação de cuidados veterinários.
Segundo Sónia Ferreira, desde 2017 que há cada vez mais turistas, nacionais e estrangeiros, nas touradas à corda, ainda que alguns só se apercebam de que está a decorrer quando se dão conta de que o trânsito está interrompido.
A presidente da associação destacou o peso social e económico destas manifestações taurinas na ilha Terceira e considerou que podem ser um atrativo turístico.
"Eu acho que cada ilha tem as suas particularidades. Há um chamariz para cada ilha e sem dúvida que a parte cultural na ilha Terceira é o que a faz ser muito diferente das outras ilhas. A tourada à corda obviamente está muito enraizada e pode ser um cartaz turístico", frisou.
Sónia Ferreira pertence à quarta geração da ganadaria Casa Agrícola José Albino Fernandes, criada em 1932, e dá continuidade ao negócio da família por gosto, mas também porque sente a obrigação de manter o legado.
"Ser-se ganadeiro é complicado, tem de se ter muita paixão, muito gosto, porque não é um negócio rentável. Não é como ter gado de carne ou leiteiro. Tem de ser algo que a pessoa deseje muito", sublinhou, lembrando que no inverno não têm receitas.
A Associação Regional de Criadores de Toiros de Tourada à Corda conta atualmente com 16 associados, 12 na ilha Terceira, três em São Jorge e um na Graciosa, mas existem cerca de duas dezenas de ganadeiros licenciados nos Açores.
No primeiro dia da época taurina estão previstas quatro touradas à corda na ilha Terceira e só mês de junho deverão ocorrer mais de meia centena.
in dn.pt
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