sexta-feira, 17 de maio de 2019

Lenda da Caldeira de Santo Cristo, ilha de S.Jorge.


Há muito tempo atrás, junto à Lagoa da Fajã de Santo Cristo, um homem desceu à Fajã da Caldeira de Santo Cristo,para trazer o gado a pastar. Era uma alternância anual entre as altas pastagens das serras e o clima ameno das fajãs.
Para muitas famílias, era nas fajãs que se encontrava o sustento diário: lapas, amêijoas, polvos, moreias, agriões, inhame e outros alimentos que a natureza dava e dá sem que o homem tenha de os cultivar. Para chegar às fajãs era preciso descer longos caminhos estreitos ao longo das altas falésias.
Tendo então o pastor deixado o gado a pastar, para ocupar o tempo livre, foi para a margem da lagoa, onde começou a apanhar lapas para o almoço. Junto da lagoa de águas salgadas, mornas e tranquilas encontrou também muitas amêijoas que aproveitou para apanhar.
Sentou-se um pouco a descansar junto da lagoa antes de ir pescar, sentindo as pernas a tremer com o esforço da descida da falésia. Ao passar o olhar pelas águas da lagoa, reparou num objecto a flutuar junto da margem mais afastada junto ao mar, que lhe pareceu ser de madeira trabalhada, esculpida.

Encontrou então uma imagem do Senhor Santo Cristo. Surpreendido com o achado, pegou na imagem, molhada e inchada de estar na água, e levou-a para terra seca. Ao fim do dia, quando voltou para casa fora da fajã, levou a imagem e colocou-a imagem em local de destaque numa das melhores salas da sua casa.
Na manhã seguinte, quando a família se levantou o Santo Cristo desaparecera. Depois de procurarem por toda a casa e de já terem dado as buscas por terminadas, ele foi de novo encontrado, dias depois, na mesma fajã e local onde tinha sido encontrado da primeira vez. Foi levado várias vezes para o povoado fora da rocha, e durante a noite a imagem voltava sempre a desaparecer, até que alguém disse: "O Santo Cristo quer estar lá em baixo na fajã à beira da caldeira, pois que assim seja".
O povo decidiu então juntar-se para construir uma igreja. Começaram os preparativos para as obras, com o objectivo de levantar a igreja do outro lado da lagoa. No entanto, quando foram para pegar nas pedras estas não se mexiam, era como estivessem coladas ao chão. "O senhor Santo Cristo quer ficar onde foi encontrado", disse alguém. Alguns meses depois e com muito sacrifício, a igreja estava terminada e a imagem colocada no seu altar. Aquela fajã passou a chamar-se Caldeira do Santo Cristo.

Conta ainda a lenda que o padre da aldeia que vivia fora da fajã e não se desejava deslocar a ela para rezar a missa, resolveu um dia que havia de levar a imagem novamente para fora da fajã. Tentou pegar na imagem para a tirar do altar e a levar, mas ficou com o pés colados ao chão e sem se conseguir mexer. O padre terá então dito ao sacristão:"Ajuda-me aqui que eu não posso andar". O sacristão bem tentou, mas por fim confessou: "Ó senhor padre, eu também não consigo dar passada!" "Então deixa-se o santinho aqui" disse o padre.
Instantes depois do padre desistir de levar a imagem, os seus pés e pernas ficaram ágeis. Perante isto, o padre e todas as pessoas convenceram-se que era ali que santo Cristo tinha de ficar para todo o sempre.

Fonte: Fernando A. Pimentel

3 comentários:

  1. Segundo consta estas imagens terão sido lançadas ao mar pelos ingleses no tempo da reforma protestante. Na ilha Terceira existe um caso semelhante, na freguesia de Santa Bárbara, com uma de Nossa Senhora- a Ermida de Nossa Senhora da Ajuda. O certo é que existe ainda uma poça pequenina, que tem sempre água e com o tamanho aproximado do pé da imagem e que, segundo reza a lenda era usada para curar doenças oculares. O certo é que a Ermida lá está bem como a gruta onde primeiramente foi guardada a imagem que sempre que levada para a Igreja paroquial aparecia, no dia seguinte, de novo na gruta.

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    1. Muito interessante! Obrigado por compartilhar.
      Julio, Mogi das Cruzes, São Paulo, Brasil.

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  2. je connais cet endroit c'est magnifique et je ne connaissais pas la légende. Merci Obrigado

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