Valérie Bich, à semelhança de todas as mulheres que sonharam voar mais alto, seria com certeza motivo de orgulho para Amelia Earhart, que há 85 anos se tornou a primeira mulher piloto de avião do mundo, e para Maria de Lourdes Sá Teixeira, que em 1928 foi a primeira em Portugal.
Quando soube que queria ser piloto?
Quando terminei a escola superior, em Itália, comecei a tentar descobrir o que gostaria de fazer. Sempre tive uma grande paixão pela aviação, mas nunca pensei fazer disso a minha vida, pois não achava possível e não tinha a noção dos cursos que eram necessários. Assim que comecei a informar-me sobre o que era preciso e me apercebi que não era algo impossível, iniciei o curso na Gestair, atual GAir, no qual a teoria era lecionada em Bérgamo, na Itália, e o voo no aeródromo de Tires.
Como iniciou o seu percurso no Grupo SATA?
Depois do curso que referi na GAir, tirei um curso de instrutor de voo e fiquei como instrutora na escola durante dois anos. Depois tirei o curso do ATR para entrar noutra empresa e estive cerca de um mês e meio em França e 5 meses em África, no Gabão. Por querer muito voltar para Portugal, enviei a minha candidatura à SATA quando abriu um concurso. Correu tudo bem e aqui estou!
Aos 25 anos, tornou-se a primeira mulher piloto da SATA Air Açores. Como é ser mulher numa profissão onde as mulheres ainda são uma minoria?
Nunca vi esta profissão como “um trabalho de homens”. Para mim sempre foi um trabalho como outro qualquer e acho que deve ser visto assim. É verdade que as mulheres estão em minoria no mundo da aviação, mas acho que isto não é relevante e que cada vez mais as mulheres estarão no sector porque não é, de facto, um “trabalho de homens”. Como em qualquer outro trabalho, acho que as mulheres podem fazer qualquer coisa. Há cada vez mais mulheres e é bom que assim seja (risos).
Quais os maiores desafios da profissão de piloto?
A operação aqui nos Açores é mais desafiante, sobretudo pelas condições meteorológicas no inverno, com ventos e visibilidades baixas.
Qual o momento mais marcante que vivenciou na sua carreira?
Foi mesmo a minha entrada na SATA, porque não estava minimamente à espera. Fiz o percurso que todos os outros fizeram para entrar, só que, como não havia mulheres, sinceramente não tinha muita esperança e por isso fiquei realmente muito feliz quando entrei. Foi um grande momento.
Ainda não é muito comum ver uma senhora a pilotar um avião. Como reagem os passageiros ao vê-la no cockpit?
Há todo o tipo de passageiros. Há quem fique surpreendido de uma forma positiva e há quem fique surpreendido de forma mais negativa. Cada um tem a sua mentalidade e pensamentos e aqui, como é um meio mais pequeno e as pessoas na SATA Air Açores não estão habituadas a ver uma mulher no cockpit, é natural. Muitas pessoas, ao virem cumprimentar o comandante, ficam admiradas por ver uma mulher ao seu lado.
Que conselhos daria a uma jovem que tenha o sonho de ser piloto?
Gostaria de reforçar que uma mulher, por ser mulher, não tem que ter qualquer tipo de limitação ou de obstáculo a mais ou a menos que um homem, por isso o importante é seguir em frente e, se é realmente o seu sonho, fazer por isso, ser-se determinado e estudar muito, como em qualquer outra profissão.
Fonte: Azoresairlinesblog
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