O arquipélago português não recebeu ‘Óscares’ de turismo, mas prepara-se para um prémio ainda maior: a certificação como destino sustentável, em que ainda só há raros casos no mundo, como a Islândia
Os Açores estão em vias de ser o primeiro arquipélago do mundo com a certificação de turismo sustentável em 2019. Segundo Marta Guerreiro, secretária regional da Energia, Ambiente e Turismo dos Açores, o processo está bem encaminhado no sentido de a região poder receber, até ao final do próximo ano, este selo de qualidade do Global Sustainable Tourism Council (GSTC) e que tem a chancela das Nações Unidas.
“É uma responsabilidade enorme, mas uma oportunidade fantástica para os Açores. É a prova de que é possível crescer no turismo preservando o maior ativo que temos, que é o nosso legado natural e patrimonial”, frisa Marta Guerreiro, lembrando que o arquipélago integra 123 áreas protegidas, incluindo território submerso.
De momento, só há cinco destinos no planeta com este selo de turismo sustentável – Islândia, Nova Zelândia, Austrália, México e, mais recentemente, a zona de Huangshan na China – e prevê-se que os Açores possam ser o próximo a receber esta certificação exclusiva e que envolve requisitos apertados.
Para obter a certificação, os Açores têm de cumprir as metas de mais de 40 critérios do Global de Turismo Sustentável (GSTC), que periodicamente são avaliados. Os próprios critérios do GSTC são recentes e foram construídos já à luz do novo debate sobre o impacto que o turismo está a ter junto das populações. Um dos objetivos é evitar que as “comunidades possam desenvolver uma atitude negativa em relação a turistas que não as respeitam, o que foi demonstrado em casos recentes como Amesterdão ou Barcelona”, conforme sublinhou o presidente do GSTC, Luigi Cabrini, em dezembro de 2017, na ocasião em que os Açores formalizaram a candidatura a esta certificação.
“Optámos pelo caminho mais difícil, havia outras certificações mundiais nesta área de turismo sustentável, mas decidimos seguir o processo de certificação mais exigente”, salienta a Marta Guerreiro.
Além da análise ao detalhe dos impactos que o turismo está a ter ao nível de consumos de energia, água ou outros recursos, os Açores também estão a ser avaliados pelo GSTC na generalidade das matérias associadas aos efeitos sobre o ambiente natural e o património cultural, no sentido de assegurar que não há pressão turística na região a níveis que ponham em risco a perda de identidade do destino.
“O grande foco tem de estar na comunidade local, esta deve ser parte ativa e um dos principais pilares nesta construção de turismo sustentável”, frisa Luigi Cabrini, advertindo que o objetivo “não é só construir um destino turístico, é certificar que tem a procura certa. É preciso mostrar números, mas é mais importante ver se a comunidade local efetivamente ganha com o turismo”.
O foco principal desta certificação é garantir que “a população local é parte ativa e um dos principais pilares nesta construção de turismo sustentável, e que efetivamente ganha com o turismo”, conforme sublinhou também o presidente do GSTC na altura em que os Açores formalizaram a candidatura.
ORÇAMENTO DE 29 MILHÕES DE EUROS APROVADO PARA O TURISMO
Os Açores são o destino nacional que evidencia o mais acelerado crescimento turístico, e desde os últimos três anos – altura em que o espaço aéreo foi liberalizado, permitindo a operação de companhias aéreas de baixo custo – as dormidas na região subiram 93%.
“Duplicámos os indicadores em três anos, é natural que isto assuste o cidadão, mas nos Açores a pressão turística ainda é reduzida e acreditamos que vamos encontrar o ponto de equilíbrio neste crescimento que estamos a ter”, sustenta a secretária regional da Energia, Ambiente e Turismo.
Segundo Marta Guerreiro, a intensidade turística nos Açores é de 2,7%, quando na Madeira é de 8%, na ilha de Menorca de 18% e em Lanzarote de 39%. Trata-se do indicador que mede quantos turistas o destino tem face à população por cada dia no ano.
“Significa que em cada 100 pessoas nos Açores, três são turistas. É o dobro do que tínhamos há uns anos, mas continua a ser pouco”, considera a responsável de Turismo e Ambiente do Governo autónomo, para quem “há uma boa margem para crescimento sem nos aproximarmos de realidades que não queremos ter nos Açores”.
in expresso.sapo.pt
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