Fonte: Correios dos Açores
Emigrou com a família para o Canadá em 1983 e agora, aos 47 anos, Virgínia Vidal trabalha um conceito diferente e visto como um tabu para muita gente: a canábis como melhoramento da vida pessoal e da nossa saúde. É dona da Mary’s Welness, no Canadá, e falou ao nosso jornal sobre o que significa exactamente este projecto: “A Mary’s Wellness é uma marca de chá de canábis de baixa dose para iniciantes, sendo este um chá com canábis solúvel em água. O nosso objectivo é preencher a lacuna que existe entre usuários pesados de canábis e novos usuários”, esclarece a furnense.
Na sua opinião, são muitas as vantagens que este chá pode trazer para a saúde humana.
“Os chás por si só já têm propriedades curativas, como por exemplo a camomila que é um relaxante muscular, a hortelã-pimenta que é um alcalino natural, o chá verde que é energizante, e o nosso sono e relaxamento podem beneficiar com esta variedade de chás. Nós combinamos essas misturas de cura com uma dose baixa de canábis para infusão para maiores benefícios aprimorados dos chás em si. A maioria dos relatos que recebemos são alívio de dores no corpo, capacidade de concentração, bem como a capacidade de dormir; tudo depende da mistura.”
A açoriana foi convidada a participar no programa Dragon Den, no Canadá, para apresentar o seu produto e conta-nos como tudo aconteceu. “Fomos convidados a participar. Eu recebi pela primeira vez um telefonema de um dos produtores e, educadamente, recusei. Entretanto, recebi um e-mail com um ingresso dourado para participar, o que significa que passaria pelas linhas gerais de audição. Eu ainda tenho o bilhete de ouro”, conta a açoriana. O episódio será transmitido a 18 de Outubro, pelas 20h30, na CBC Televisão.
Questionada sobre a dificuldade de gerir este negócio, Virgínia garante que estas são mais do foro familiar. “Eu tenho seis filhos, três deles gémeos, e também cuido da minha avó idosa. Apesar disso, continuo a trabalhar.” Virgínia Vidal tem 47 anos e tem o auxílio do filho mais velho, Ricardo, com 29 na empresa. É também mãe de Avery, com 24 anos, de Miranda, com 22, e dos trigêmeos Maya, Miguel e Marisa com 11 anos. “A minha vida pessoal é muito mais desafiadora do que a minha vida profissional, pois tenho muitas pessoas a depender de mim, incluindo um parceiro de vida gravemente doente.”
A planta canábis entrou de pedra e cal na vida desta açoriana quando se viu a braços com uma gravidez de alto risco de três gémeos, na qual passou bastante mal. Os médicos não a aconselhavam, mas Virgínia percebeu que seria a canábis a ajudá-la a superar o estado em que se encontrava ao longo da gravidez. Por isso, ingeria chás de infusão de canábis e a verdade é que a gravidez chegou a bom porto com os três filhos a sair do hospital em simultâneo com a mãe. “Pessoalmente estive muito doente durante a minha gravidez dos trigêmeos. A canábis foi a única erva que o meu corpo permitiu consumir sem rejeição. Eu usei-a e os trigêmeos saíram do hospital no mesmo dia que eu. Muitas mães de alto risco e os seus bebés não são tão afortunados quando a maioria dos mesmos são tratados com morfina ou outros remédios fortes. Isso significa que a maioria dos bebés de alto risco tem que passar pelo programa de reabilitação logo após o nascimento. Alguns médicos não estão de acordo com isso, porque têm medo do risco. Mas outros já estão a fazer certas mudanças.” Assim, por sua conta e risco, e com base em muitas pesquisas que mesmo assim não ajudavam muito, Virgínia Vidal conseguiu dar vida aos três filhos e continuar a viver a sua. “Eu nunca senti tanta náusea para os meus outros filhos. Com os trigêmeos foi uma história diferente”, explica. “Medicar-me em público era muito difícil. Foi aí que o chá apareceu. Era uma maneira discreta de me medicar sem que outros me julgassem”, conta a açoriana.
Para já, os seus clientes são apenas canadianos, mas Virgínia garante que estão a procurar parceiros noutros países que tragam benefícios para a venda do chá que produzem. Além disso, “estamos a trabalhar com uma co-embaladora e licenciadora de produtores para trazer o produto para o mercado dos Estados Unidos da América, bem como para desenvolver bebidas prontas para beber”, conta.
Quanto ao lugar da canábis em Portugal, a empresária é da opinião de que “seria maravilhoso produzirmos os nossos chás cá, com os vários benefícios que isso traria para o mercado português. Poderíamos usar ingredientes de origem portuguesa, o que por sua vez criaria empregos.”
A açoriana narrou-nos, também, como decorreu o seu processo de emigração. “Eu emigrei para o Canadá a 15 de Setembro de 1983. Adoro as minhas memórias de infância referentes a São Miguel, que é verdadeiramente um paraíso na terra e tem um óptimo clima para a canábis. Visitei recentemente os Açores, em Agosto deste ano, e fiquei em Furnas, onde ainda tenho vários familiares e amigos”, conta.
Mas o seu crescimento também foi marcante e diferente. “Eu cresci com os meus avós nas Furnas. Como os meus pais foram um dos primeiros casais a divorciarem-se, tornei-me bem conhecida por isso. Cresci de forma muito livre e passava muito tempo na praia da Povoação, principalmente durante os feriados da escola. Além disso, andava muito a pé na ilha com a minha avó, pois ela não gostava de pagar pelo serviço de autocarro. Mas eu gostava das longas caminhadas, às vezes íamos das Furnas para Ponta Delgada a pé. A melhor parte eram as frutas que comíamos ao longo do caminho e as pessoas que encontrávamos”, recorda a açoriana com emoção.
Desde que emigrou, Virgínia já veio três vezes aos Açores, nomeadamente em Dezembro de 1993, em Setembro de 2016 e este ano. Sempre que vem adora e aproveita para matar saudades da família e amigos, que é do que mais sente a falta. Além disso, a açoriana sente-se feliz com a evolução que encontrou por cá. “Eu quero elogiar a Poça da Dona Beija, porque eu estava a fumar lá a minha canábis na área designada para fumadores e o segurança pediu-me a minha licença médica antes de me indicar que parasse de a ingerir. Este é um grande progresso para um país que estava à frente do outro na descriminalização.”
A açoriana garante que adora tudo por aqui, mas essencialmente a relação da comunidade entre si e a preocupação existente entre as pessoas. “Fiquei surpresa ao descobrir que as pessoas ainda conversam de janela em vez de fazerem uma conversa online. É muito mais recompensador, apesar de alguns moradores acharem que estão a coscuvilhar; eu acho que é carinho, pois como vivemos nas grandes cidades é difícil obter tanto interesse ou compromisso de tempo dos nossos vizinhos”, esclarece.
Em jeito de conclusão, a açoriana contou-nos que os produtos mais populares que têm na Mary’s Welness são o chocolate quente, uma mistura infundida com canábis projectada para alívio da dor, a sidra de maçã, infundida para alívio da dor e do stresse, e os chás que têm uma forte intervenção no sono e no relaxamento. Porém, a empresária alerta que quem não tem por hábito consumir derivados desta planta deverá, naturalmente, ter cuidado com as doses que ingere.
Assim sendo, foi por uma questão de saúde que Virgínia Vidal descobriu como investir na canábis para a melhoria do estado de vida das pessoas. Mal poderia saber ela que o seu remédio caseiro resultaria na empresa Mary’s Welness. A açoriana irá continuar com o seu negócio, de forma a melhorar a sua acção e a trazer mais benefícios para a saúde humana.
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