Açoriano regressa a casa com medalha de bronze após Olimpíadas Internacionais de Biologia no Irão
Terminado recentemente o ensino secundário no Colégio do Castanheiro, o jovem afirma ter sempre gostado da área das ciências de uma forma geral, tendo-se inclusive candidatado ao curso de Medicina da Universidade dos Açores depois de resultados muito favoráveis nos exames nacionais, salientando que na etapa de selecção a nível nacional para as olimpíadas internacionais não teve “qualquer tipo de preparação, nem a nível escolar, nem ao nível pessoal”.
Dessas olimpíadas, João Fonseca e Sousa obteve o quarto lugar de classificação, sendo assim seleccionado como um dos quatro representantes de Portugal no Irão, adiantando que para estas provas o trabalho de preparação foi realizado com mais afinco. “Para as Olimpíadas Internacionais já estudei um pouco mais e tentei preparar-me da melhor forma possível, tendo em conta que também eram três provas práticas”.
Para o efeito, viajou até Lisboa duas semanas antes do início das provas para realizar uma “preparação intensiva” (que no caso de outros alunos pode durar um ano inteiro), a cuidado da Ordem dos Biólogos e acompanhada por várias universidades do país e vários professores, tornando esta uma “experiência que foi sem dúvida muito interessante e enriquecedora”.
Por já estar “habituado a representar os Açores” neste tipo de eventos, João Fonseca e Sousa aponta que o sucesso destas participações está, sobretudo, na organização do tempo que se tem entre mãos. “O mais importante para participar numa olimpíada destas é saber organizar muito bem o tempo, porque fazer parte disto não é só fazer uma coisa a mais do que já se faz, é sim conciliar isto com aquilo que já se faz”.
Neste sentido, o jovem refere que nem a escola nem as disciplinas poderão ser “descuradas de forma alguma”, e que por esse motivo o truque será “saber aplicar o tempo e organizá-lo da melhor forma para que possam ter o melhor resultado possível”, salientando também que o acompanhamento durante a preparação para as provas poderá ser “mais enriquecedor”.
Do Teerão traz sobretudo boas memórias, salientando que todo comité olímpico de Portugal, constituído por quatro alunos e dois professores, um deles o Bastonário da Ordem dos Biólogos, “sempre foi muito bem recebido e sempre teve um acompanhamento muito próximo”, uma vez que a cada país era atribuído um guia local, responsável também por tomar conta dos jovens nos momentos em que não poderiam ser acompanhados pelos professores.
“A partir do primeiro dia de provas, ou seja, depois da cerimónia de abertura, deixámos de ter qualquer contacto com os professores. Ficámos sem telemóveis e sem tablets porque são os professores que nos acompanham que fazem a tradução das provas para português”, refere João Fonseca e Sousa.
Durante o tempo em que lá esteve, o jovem que representou os Açores nestas olimpíadas, afirmou que o tratamento que lhes foi dirigido enquanto equipa foi sempre “espectacular”, dando como exemplo os momentos em que se deslocavam para o local das provas: “Íamos em autocarros até à universidade em que se realizavam as provas e tivemos sempre uma escolta policial que nos fechava o trânsito para que não houvesse atrasos na prova, pois ao fim e ao cabo foram 71 países com 269 pessoas, portanto tudo teria que estar muito bem organizado”.
Para além dos momentos em que estavam em prova, João Fonseca e Sousa refere que existiram ainda várias oportunidades para conhecer mais sobre o país que visitavam, oportunidades essas que classifica como “muito interessantes a nível cultural”.
Nesse sentido, o jovem açoriano refere que, em Teerão, o que mais lhe chamou a atenção foram “as diferenças” entre culturas, “não só por encontrar coisas que não vejo nos Açores, mas também por coisas que esperava ver e que não vi. Ambas essas facetas do que encontrei, ou do que não encontrei, como foi o caso, surpreenderam-me bastante”, afirma.
“Não vi, sobretudo a nível religioso, muita gente vestida com burka e achei as pessoas muito mais tolerantes com comparação ao que se fala habitualmente. Os iranianos são um povo muito amável e prezam-se por isso”, afirma João Fonseca e Sousa, relatando ainda que “foi interessante ver que não há uma disparidade tão grande como aquela que se pensa existir”.
Destas olimpíadas o jovem afirma trazer “268 amigos mais os guias que foram extremamente amáveis e que, sem dúvida, tiveram um grande papel nestas olimpíadas”, referindo que, a partir de agora, “sempre que for a qualquer um desses 70 países” terá “alguém a quem dizer olá. É sempre agradável pensar assim”, refere.
No regresso, na chegada a Ponta Delgada, esperava-o no aeroporto a família orgulhosa que sempre incentivou e apoiou esta parte do percurso académico do jovem. No entanto, João Fonseca e Sousa garante que é diferente competir a nível nacional e a nível internacional: “Apesar de ser o mesmo orgulho, estar lá fora e representar uma bandeira e os 10 milhões de pessoas que temos cá é impressionante e vale bastante”, aponta.
Porém, “tanto para uma olimpíada nacional como para uma olimpíada internacional, o mais importante é sempre fazermos o melhor que podermos. E como dizia o professor José Matos, que é quem está mais próximo de nós sempre que se vai para uma olimpíada destas, mais importante do que as medalhas, é representar o melhor possível Portugal, porque daqueles 70 países e 268 alunos, muitos deles nunca viram um português e muitos deles provavelmente não voltarão a ver um português. A imagem com que vão ficar de um português e de Portugal é exactamente aquela que nós passarmos, por isso para nós, que vamos representar o país é sobretudo isso que nos importa”.
Porém, tendo em conta toda a experiência que tem no que diz respeito a olimpíadas, João Fonseca e Sousa refere que falta “um bocadinho de abertura, sobretudo aqui na Região”, no que toca à importância e valorização deste tipo de iniciativas. “Noto bastante isso devido aos contactos que tenho tido nas outras olimpíadas”, diz o candidato ao curso de medicina nos Açores.
Fruto desse contacto com participantes de outros países nestas olimpíadas, João Fonseca e Sousa adianta que o próprio programa de biologia em Portugal está “muito desactualizado” em relação aos restantes programas, uma vez que o programa português não é revisto ou actualizado desde a década de 90, afirma.
“Claro que ganhar um campeonato europeu de futebol se calhar é mais importante do que ganhar umas Olimpíadas Internacionais de Biologia, mas não deveria haver esse fosso tão grande entre as duas coisas porque se calhar é tão ou mais difícil ganhar uma olimpíada com este grau de dificuldade do que dar uns pontapés numa bola”, afirma João Fonseca e Sousa, explicando que “muitas vezes não há essa ideia do quão importante é fazer uma representação digna e o melhor possível do nosso país num evento destes que acaba por ser bastante importante”.
Este é um cenário que, no entanto, não acontece em todo o sítio, tendo João Fonseca e Sousa salientado que há países que dão muita importância a este evento, “como o próprio Irão que é um país que investe imenso neste evento e notamos que se calhar falta um bocadinho desta consideração da nossa parte também”, uma vez que para a área da biologia os apoios são concedidos exclusivamente pela Ordem dos Biólogos.
Para além disso, o antigo aluno do Colégio do Castanheiro aponta ainda que “falta muitas vezes o interesse das escolas, ou dos próprios alunos e há muitas outras disciplinas com olimpíadas que não sabia que existiam e nas quais não pude participar”, como as olimpíadas de química ou de informática que “carecem de alguma atenção e que poderiam ser de grande interesse para muitos alunos”.
Porém, para os alunos que vivem e estudam nos Açores, nem sempre é fácil usufruir dos benefícios que advêm do sucesso das participações nas variadas olimpíadas que existem, sejam nacionais ou internacionais, uma vez que não há comparticipações elevadas concedidas por parte do Governo Regional.
Nesse sentido, João Fonseca e Sousa recua até ao 9.º ano de escolaridade, altura em que, aos 14 anos de idade, ganhou uma final nacional de matemática onde ganhou, à semelhança do que aconteceu este ano no Irão, a medalha de bronze.
“A partir do momento em que ganhei o bronze nesse ano fiquei automaticamente inscrito num programa de estágios em Coimbra, o Delfos, que é um programa que tem um estágio mensalmente, tirando nas férias de Verão, onde juntam os alunos com estatuto Olímpico e lhes dão aulas de diversas matérias já em níveis do Ensino Superior, matérias que não são dadas no ensino secundário mas que são necessárias nas olimpíadas internacionais, neste caso de matemática”, explica o jovem açoriano, salientando que, ao abrigo desse estágio, em meados do mês de Maio é então realizada uma prova de onde sairão os seis melhores estagiários que “irão às olimpíadas internacionais de matemática ou às ibero-americanas”.
No entanto, tendo em conta a dificuldade sentida por conta das viagens que tinha que fazer mensalmente, João Fonseca e Sousa viu-se forçado a desistir do programa de estágios que conquistou por seu próprio mérito. “Coimbra não facilitou… ainda falámos com eles para ver se seria possível fazer algumas das aulas por vídeo-conferência com ligação à nossa Universidade, e fazer apenas uma ou duas deslocações a Coimbra. Mas não houve essa plasticidade da parte deles e não foi possível continuar”.
Perante a impossibilidade de avançar para as Olimpíadas Internacionais de Matemática, o antigo estudante do Colégio do Castanheiro afirma ter-se sentido prejudicado, “não pelo facto de não ter possibilidades de ir a Coimbra, mas pelo facto de não terem em conta o cansaço que é um aluno de cá ter que perder 12 horas para cada lado para ter dois dias de estágio, sendo que depois de uma viagem dessas não apanha metade da matéria, tendo também em conta o nível de dificuldade que é bastante alto.
“Claro que há alunos que já o fizeram e é possível, mas é muito mais complicado e acaba por ser uma desconsideração por quem está cá”, afirma João Fonseca e Sousa, referindo ainda o papel importante que tiveram os pais para que pudesse participar em várias olimpíadas ao longo dos últimos anos.
“No 10.º ano participei nas olimpíadas de Biologia e consegui o primeiro lugar a nível nacional. No ano passado participei em Geologia e também fui à final nacional, e em física tive uma menção honrosa também na final nacional, e este ano também Biologia novamente; um quarto lugar na final nacional que me levou a representar Portugal no Irão”, enumera.
Julgando-se que para este jovem já restaria pouco tempo em que se pudesse ocupar com outra actividade, na realidade João Fonseca e Sousa é também um dedicado ao piano. “Acabei este ano o oitavo grau de piano no Conservatório e fiz o meu recital dois dias antes de ir para Lisboa começar as preparações para as olimpíadas internacionais, tendo terminado com 19 valores”.
Para conseguir atingir este objectivo, o candidato ao curso de medicina na Universidade dos Açores adianta ter tido a necessidade de “repartir o tempo o melhor possível por todas estas coisas, sem esquecer os exames nacionais e tudo correu bem”. Esta ginástica entre actividades resulta, segundo João Fonseca e Sousa, pelo facto de se considerar “bastante perfeccionista”, uma faceta que lhe chega “não só pela veia de músico, porque um músico é sempre perfeccionista, mas porque é isto que nos faz ir ao mais longe possível e que nos faz melhorar sempre”.
Por outro lado, e como seria de esperar, o tempo livre de que dispõe é “manifestamente pouco”, salienta o jovem, adiantando que por esse motivo tenta sempre “aproveitá-lo ao máximo e evitar pegar em livros”. Porém, confessa que muitas vezes acaba por se sentar ao piano, porque para além de ser uma obrigação “é também uma forma de aproveitar e de passar o tempo. Mas também leio, vejo televisão e faço outras coisas como toda a gente faz”, afirma.
Fonte: Correio dos Açores
Deixe um comentário