Avião cargueiro vai ligar Ponta Delgada e Lisboa cinco dias por semana
Depois da Madeira, os Açores. O consórcio MAIS (Madeira Air Integrated Solutions), que desde Julho do ano passado assegura uma ligação aérea diária de carga entre Lisboa e Funchal vai começar a voar para os Açores.
O voo inaugural entre Ponta Delgada e Lisboa está marcado para 3 de Julho, faltando apenas ultrapassar questões de pormenor, tanto no Aeroporto Humberto Delgado como nos Açores. António Beirão, CEO da ALS Portugal, que juntamente com a companhia aérea espanhola Swiftair e a empresa de logística madeirense Loginsular, compõem a MAIS, diz ao PÚBLICO estar confiante.
“A nossa vontade é começar a operação a 3 de Julho, mas estamos ainda a negociar ‘slots’ no aeroporto de Lisboa, e a ver se conseguimos reduzir as taxas aeroportuárias nos Açores”, explica António Beirão, mostrando-se convicto que ambas as questões serão ultrapassadas.
Se a dificuldade em encontrar ‘slots’ em Lisboa – “bem reveladoras do tráfego do aeroporto” – será ultrapassada até no interesse da própria gestão aeroportuária – “o avião está lá parado a ocupar espaço, quando podia estar a voar” –, também as taxas cobradas nos Açores deverão ser aligeiradas de forma a viabilizar a operação.
“Estamos a falar de dezenas de milhares de euros anuais em taxas, cujo valor representa o dobro e em alguns casos o triplo do que é cobrado em média nos aeroportos europeus”, quantificou o responsável pela MAIS, dizendo que o governo regional açoriano já mostrou abertura para rever esses valores.
O aparelho escolhido é um ATR 72-300F, idêntico ao que assegura a linha Funchal-Lisboa, tem capacidade de carga a rondar as cinco toneladas, e irá fazer cinco rotações semanais. Parte de Ponta Delgada depois das 19 horas, regressando de Lisboa por volta das 11 horas do dia seguinte. Falta definir se os voos serão feitos de segunda a sexta-feira ou se os ciclos começam na terça-feira e terminam no sábado seguinte.
O horário não foi escolhido ao acaso. A chegada da MAIS aos Açores acontece pela mão da Associação dos Comerciantes de Pescado dos Açores (ACPA), que quer exportar para mercados competitivos como o Japão ou o Europeu. Até agora, sem linha aérea de carga regular, o pescado açoriano ficava afastado do circuito. Com o ATR 72 a voar, tudo muda.
“Ao partirmos de Ponta Delgada às 19 horas, o peixe entra no circuito comercial antes da meia-noite. É como se tivesse sido descarregado na lota”, observa António Beirão, enquanto Pedro Melo, secretário-geral da ACPA, não escondia o entusiasmo quando o projecto foi apresentado, no início deste mês, num encontro com jornalistas em Ponta Delgada.
“Não se pode ir para um mercado exigente, que quer o peixe fornecido sem falhas, sem este suporte”, disse o responsável pela ACPA, lembrando que esta é uma reivindicação antiga, pedida desde 2011.
Desde essa altura, foram abertos dois concursos públicos internacionais pelo governo da República. Ambos sem sucesso. O primeiro, não teve concorrentes e o segundo foi cancelado, apesar do interesse formal de um consórcio formado entre o Grupo Sousa e o operador aéreo DB Aviation. O caderno de encargos, que pedia 15 toneladas diárias e seis frequências semanais no Verão e cinco no Inverno, terá sido demasiado exigente para atrair potenciais interessados.
As 5,5 toneladas disponibilizadas pelo ATR 72 serão suficientes para as necessidades da linha. António Beirão antecipa mesmo uma “exploração mais equilibrada” do que aquela que acontece na Madeira, onde o avião tem voado com 75% da capacidade total de carga entre Lisboa-Funchal, enquanto no sentido inverso raramente atinge os 70%.
“Além do pescado, vamos ter outros produtos do mercado de exportação que vão viabilizar a operação”, diz, admitindo algum desconforto com os números da operação na Madeira. Não está em causa, sublinha, a operação, mesmo porque, tal como nos Açores, a linha assenta muito no pescado. No caso madeirense, esse pescado vem da produção em aquicultura e está previsto a entrada em actividade de novas explorações a curto prazo. Mesmo assim, os números, “não colocando a operação em risco”, não deixam a MAIS “muito confortável”.
Fonte: Publico
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