Natural da Manhenha, na ilha do Pico, Fábio Vieira soube desde cedo que a arte iria fazer parte da sua vida. Depois do curso de Design de Comunicação, passou pelo Design Gráfico e depois pela Ilustração, onde conseguiu que as suas obras captassem a atenção em vários concursos onde foi finalista. Da Manhenha, que não quer abandonar, tem desenvolvido ilustrações e ideias para marcas nacionais e internacionais, para países como os Estados Unidos da América, Brasil e Rússia. Tem ilustrações suas em livros infantis e a azulejaria é a arte que agora lhe ocupa mais tempo. Fábio Vieira confessa que não é fácil viver da Ilustração nos Açores mas é uma arte de que não desiste. No futuro gostava de ver mais peças suas em espaços públicos para estarem acessíveis a todos.
Correio dos Açores - Licenciou-se em Design de Comunicação e especializou-se em Ilustração. Desde cedo quis ser ilustrador/designer? Como surgiu este gosto pelas artes?
Fábio Vieira (ilustrador) - Sim, desde muito novo que gosto de desenhar, sempre foi uma forma de expressão em que tive muito à-vontade; estimula-me a imaginação e a criatividade. Durante a minha adolescência compreendi que era pelas artes que iria desenvolver a minha carreira. Desenhar é uma parte de mim e define-me.
Em 2011 foi finalista do concurso Ilustra Cidades e o seu trabalho esteve exposto em Lisboa. Que trabalho era esse e como foi ver o seu trabalho a ser apreciado por largas centenas de pessoas que diariamente frequenatm a estação de metro onde esteve patente?
Tratava-se de uma ilustração sobre os aspectos mais sombrios da cidade enquanto estrutura social. De cores negras e formas grotescas, representa a mesma como uma entidade que consome o indivíduo, açambarcando-o pela sua enormidade e impessoalidade, atraindo-o e enclausurando-o numa relação parasital, sugando a sua essência até torná-lo em mais um elemento formatado e regular.
Quanto à exposição da ilustração naquele espaço, foi gratificante saber que muita gente o poderia apreciar.
Teve também a seu cargo a ilustração de obras infanto-juvenis açorianas. Foi fácil trabalhar para os mais novos?
No início não foi fácil, pois o estilo que tinha na altura não se adequava completamente, mas adaptei-me e cheguei a resultados muito interessantes. Ilustrei várias obras e, em cada uma, segui um estilo diferente.
A passagem à azulejaria foi natural? Já tinha experiências anterior?
Não foi natural mas sim mais como uma imposição. A certa altura surgiu um projecto em que a azulejaria era, efectivamente, o melhor caminho a seguir e, por isso, decidi arriscar, sem ter experiência alguma nos processos deste tipo de arte. Sorte a minha, a minha namorada já havia feito alguns trabalhos em azulejos, deu-me as bases e lá comecei, com melhores e piores resultados, melhorando a cada painel que faço, e, desde então, tem sido uma das minhas paixões, de tal forma que é hoje um dos principais campos da minha produção. Sempre me impressionaram os painéis de azulejos, os portugueses principalmente, em específico os de Jorge Colaço, obras simplesmente colossais e grandiosas.
Como classifica o seu trabalho ao nível da azulejaria?
Por hora desenvolvo uma linha bastante comum, realista e demonstrativa, pois são trabalhos de encomenda e os clientes têm uma ideia muito precisa do que querem. No entanto, em alguns, é me permitido extravasar um pouco e criar algo mais a meu gosto, criar uma certa identidade estética que vai buscar as suas raízes à pintura do renascimento, com grande ênfase no corpo humano, no aspecto anatómico, com posições dramáticas e carregadas de teatralidade, integradas em ambientes oníricos, de realidades utópicas e surrealistas.
Em qual da arte prefere trabalhar?
Depende. Por agora será a azulejaria, no passado foi a pintura digital e no futuro não sei bem mas mantenho sempre a minha actividade nestes dois campos e também na pintura de murais.
Apesar do seu vasto currículo tem-se mantido na sua ilha natal. Nunca ponderou abandonar os Açores ou a sua ilha?
Gosto muito dos Açores, da minha ilha, do meu lugar, a Manhenha. Já vivi em outros sítios, no continente, mas quando lá estava só desejava estar a viver na Manhenha. Não abandono esta terra porque ela faz parte de mim e, se não estou cá, só desejo cá estar. É um apego irracional mas é muito forte.
Hoje em dia, com as novas tecnologias e o tipo de trabalho que desenvolve, o facto de se viver numa ilha não é impedimento para uma carreira internacional. No início sentiu esse tipo de impedimento?
Não, de todo. Embora o meu percurso tenha facilitado o desenvolvimento da minha carreira a partir dos Açores. Formei-me, instruí-me e tive os primeiros contactos profissionais no continente, contactos esses que, nos primeiros anos cá, foram essenciais para desenvolver a minha carreira. A tecnologia hoje permite-nos estar no centro do mundo, mesmo vivendo numa das zonas mais periféricas do globo.
Consegue-se sobreviver enquanto criativo nos Açores? Ou há sempre necessidade de complementar esse trabalho com outro?
Não tem sido fácil. No início ainda consegui subsistir como ilustrador freelancer, mas, devido a diversas vicissitudes, isso deixou de ser possível. Assim sendo, já fiz de tudo um pouco para garantir a minha estabilidade económica, desde trabalhar em carpintaria, construção civil, etc. Mas, enfim, a situação tem melhorado e a verdade é que, na minha área, tenho tido diversos trabalhos, nos últimos tempos mais frequentemente de azulejaria.
Que trabalhos tem vindo a desenvolver actualmente e que projectos tem “em carteira” a curto prazo?
Continuo a fazer ilustrações para packaging, sobretudo para uma agência do continente, mas, neste momento, a azulejaria é a área em que tenho mais comissões, painéis, no essencial. Este ano já concluí três painéis e, agora, estou a trabalhar num painel para a associação MiratecArts.
Daqui a cinco anos onde gostava de ver uma peça sua exposta ou imortalizada?
Gostava de ver ainda mais obras minhas em locais públicos ou espalhadas, ao acaso, pela paisagem, acessíveis a todos, em locais de contemplação; uma descoberta para quem com elas se cruzassem.
Fonte: Correio dos Açores
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