Na fotografia: a marina de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira. (Fotografias de Fernando Marques)
A Terceira pode não ter os mais dramáticos postais dos Açores, mas tem Angra Património Mundial, touradas à corda, queijo, vacas, a melhor alcatra de peixe do mundo (exagero) ou alojamentos como o Pico da Vigia.
ANGRA DO HEROÍSMO
Talvez por não estar no Continente – com toda a certeza, por não estar no Continente -, Angra do Heroísmo nem sempre é olhada com a atenção que merece, ao contrário de outros locais e cidades Património da Humanidade. Uma distinção recebida em 1983, graças ao seu traçado urbanístico e pela importância nas primeiras rotas comerciais. Capital do Reino duas vezes (entre 5 de agosto de 1580 e 5 de agosto de 1582 e em 1830), as suas gentes foram heróicas na forma como resistiram ao domínio castelhano. Aliás, é daí que vem o seu nome. Não foi, certamente, por acaso que os espanhóis aqui construíram a maior fortaleza filipina do mundo, no Monte Brasil, com quatro quilómetros de extensão.
Aqui foi também construído o primeiro hospital ultramarino do mundo. Uma história que, em breve, poderá ser (re)visitada no Centro Interpretativo de Angra, projetado por Álvaro Siza Vieira. Será a sua primeira obra no arquipélago, instalado na Casa dos Pamplonas, edifício em ruínas desde o sismo de 1980. Não deixa de ser impressionante perceber como a cidade foi capaz de recuperar tão rapidamente de uma terramoto que lhe destruiu setenta por cento do território.
Se há cidades em que a História não é apenas passado, esta é uma delas. E como correm os dias hoje em dia? Lentos, prazenteiros, como em qualquer capital de província que se preze, com turistas (mas sem enchentes), com alguns restaurantes e cafés de alma cosmopolita (destaque para o Verde Maçã, no número 11 da Rua Direita), a viver lado-a-lado com casas e lojas históricas, como a Pastelaria Athanasio, na 132 da Rua da Sé, ou a loja Basílio Simões e Irmãos, também na Rua Direita – número 81. Está a funcionar, na mesma família, desde 1850. Sementes, bombons e chás a granel, há um pouco de tudo. Até ananás dos Açores.
NATUREZA
Já aqui se disse e repetiu que esta não é a ilhas das grandes lagoas, das fajãs ou dos vulcões. Desenganem-se, contudo, aqueles que pensam que por aqui não há nenhuma maravilha natural para visitar. Há, naturalmente, sendo que fazer um passeio pedestre guiado é sempre uma boa forma de descobri-las, neste caso com Tiago Fortuna, um dos responsáveis pela empresa Comunicair.
Ele que nasceu no Porto, foi pioneiro do BTT em Portugal, monitor de todo-o-terreno, organizador várias expedições a Marrocos, é piloto de balão de ar quente, mas decidiu aterrar nos Açores. Na Terceira. «A maioria das pessoas desconhece que temos a maior área de mancha endémica dos Açores.» Temos. Fala como se fosse da terra, é da terra, e conhece os seus trilhos como poucos, sobretudo os da serra de Santa Bárbara.
Há vários trilhos pedestres que podem ser feitos sem guia, mas aquele que leva até à cratera do vulcão – quem disse que aqui não há vulcões? – garante ser um exclusivo da sua empresa. «Trazemos em média quarenta a cinquenta pessoas por ano.» Pouco, muito pouco, num sítio que nos vai conquistando pouco a pouco. Está-se a apenas a 1000 metros de altitude, a vegetação é rasa, parece rasa, mas à medida que se avança por caminhos repletos de lama movediça onde só sobrevivem pés bem guiados, os inofensivos juniperus (cedros do mato) vão, também eles, «engolindo» os caminhante e transformando-se numa espécie de minibosque tolkieniano, a fazer lembrar O Senhor dos Anéis. Filme que termina com vista para a cratera do vulcão, um dos sítios mais mágicos e inexplorados da ilha.
in evasoes.pt
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