"Na terra dos sonhos podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal. Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual".
Esta música de Jorge Palma podia ser sobre a ilha Terceira, nos Açores. Entre nove ilhas de incomparável beleza, não há como a Terceira para nos sentirmos subitamente contagiados pela típica alegria e leveza de ser do povo açoriano.
Conhecida como "a ilha festiva", a Terceira é a ilha dos Açores com mais celebrações durante o ano, religiosas ou pagãs. As Festas do Espírito Santo, que decorrem uma semana após a Páscoa, a partir do domingo de Pentecostes até ao domingo da Trindade (durante oito semanas), são das mais famosas festas da Terceira. Únicas no mundo, as Festas do Espírito Santo celebram-se um pouco por todas as ilhas do arquipélago dos Açores, mas na Terceira são vividas com maior intensidade.
Segundo reza a História, as Festas do Espírito Santo terão surgido em Portugal no século XIV, inspiradas pela Rainha Santa Isabel. O culto teria por base a celebração do Espírito Santo, e o objetivo seria distribuir o "bodo" pelos pobres, ou seja, pão, vinho e carne. Estas festas terão chegado aos Açores por altura da colonização, e se no continente a tradição se foi perdendo, no arquipélago tornou-se parte da sua identidade.
De facto, a segunda-feira a seguir ao domingo de Pentecostes é o feriado oficial da Região Autónoma dos Açores, instituído como "Dia dos Açores" desde 1980, pelo parlamento açoriano. Na Terceira, é um dia repleto de emoção e singularidade, que se assinala em todas as freguesias. Começa pela missa da coroação, onde os terceirenses que constituem as "Irmandades" (organizadores da festa, designados anualmente) são distinguidos com a Coroa do Espírito Santo, pelo padre, com a qual de seguida irão desfilar na procissão. Esta é uma coroa feita de prata batida com relevo, onde quatro braços se unem de forma convexa, sustentando um globo sobre o qual se destaca uma pomba de asas abertas. Da coroa sai um laço de largas fitas de seda branca, cujas pontas caem sobre as costas.
Na procissão, as Irmandades e o restante povo seguem rodeados pelas coroas, cetros e bandeiras com pombas representadas, assim como gado bovino em carroças enfeitadas, para simbolizar a carne de oferenda. De seguida são distribuídos os "bodos", benzidos pelos padres, pelos mais necessitados.
Cumprida a obrigação, chega a hora mais aguardada: o almoço à volta dos "Impérios", altares coloridos, decorados com flores e símbolos da festa, onde os terceirenses desfrutam de sopas típicas e bife da alcatra regado de vinho. Famílias, amigos, vizinhos e curiosos juntam-se numa refeição farta que dará lugar a fado de desgarrada nos coretos e bailes que seguem pela noite fora.
Durante oito semanas, é de festa que se veste a ilha Terceira, famosa pela alegria de um povo que celebra a vida sem igual. A Terceira é também o palco das célebres Festas Sanjoaninas dos Açores, em junho, que durante mais de dez dias garantem a animação dos terceirenses e milhares de turistas que visitam a ilha naquela altura.
in jn.pt
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