sexta-feira, 6 de outubro de 2017
Angrajazz celebra cinco centenários com os olhos no futuro
Festival de jazz chega às 19 edições com um programa fora de portas para cativar novos públicos (e músicos). Pela primeira vez, Angrajazz estende-se à cidade de Angra do Heroísmo
O Festival Internacional de Jazz de Angra do Heroísmo, Angrajazz, chega ao 19.º ano com novidades. Pela primeira vez vai apresentar, além do programa de concertos, jam sessions e ações de divulgação no centro da cidade Património da Humanidade, com acesso livre, com o objetivo de cativar mais público para o festival entre os locais e os turistas que visitam a ilha Terceira, nos Açores. Uma edição que celebra cinco centenários do jazz - Ella Fitzgerald, Lena Horne, Dizzy Gillespie, Tadd Dameron e Thelonious Monk - hoje no concerto de abertura tocados pela orquestra da "casa".
"Vamos ter sete concertos em vez de seis, que é uma forma de aproveitar o feriado de quinta-feira. Temos concertos duplos na quarta, na sexta e no sábado, e a juntar a esses temos sete concertos na rua em locais públicos de acesso livre onde participam duas bandas locais, o Wave Jazz Ensemble e o Sara Miguel Quarteto, assim como o Mano a Mano, que é o projeto do Bruno e do André Santos, que estão a lançar o seu segundo CD", explica Miguel Cunha, um dos elementos da associação Angrajazz, que organiza o festival. Esta "extensão", que acontece já por estes dias (começou na sexta-feira) e abraça o festival a partir desta noite até sábado, resulta de uma parceria com a Direção Regional de Cultura dos Açores. "Desafiaram-nos, deram-nos algumas condições e avançámos em parceria, o que permitiu planear as coisas com antecedência e levar o festival para a rua, para trazer mais pessoas, sair de portas e toda a cidade ter um pouco de jazz com o objetivo de tornar o festival mais falado, mais conhecido, o que vai dar a toda a cidade um ambiente engraçado durante o dia", refere Miguel Cunha. Paralelamente, decorre uma exposição sobre os cinco centenários, organizada pela Biblioteca e pelo Arquivo Regional Luís Silva Ribeiro.
O programa do festival, que decorre como sempre no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo, transformado em clube de jazz, procura a diversidade. No primeiro dia, apresenta-se o pianista francês Baptiste Trotignon com o percussionista Minino Garay. Amanhã é o dia de Charles Tolliver recriar, com o seu decateto, o famoso concerto de Thelonious Monk no Town Hall (Nova Iorque) em 1959. "É um dos concertos mais importantes de sempre na história do jazz porque o Monk não parava muito tempo para escrever para grandes orquestras, preferia tocar com os seus quartetos e quintetos, até que uma certa altura um seu amigo arranjador decide fazer esse trabalho: pegar nos temas dele e arranjá-los para um decateto. É um decateto exatamente com os mesmos instrumentos e com o mesmo alinhamento desse concerto que vai ser tocado aqui em Angra do Heroísmo. É um repertório muito bonito. O Charles Tolliver é um belíssimo trompetista que vai dar um concerto muito interessante", assegura o organizador.
Na sexta-feira, regressam os concertos duplos com os portugueses Ensemble Super Moderne, seguidos do quarteto do baterista norte--americano Matt Wilson com um "jazz muito moderno, muito interessante". A fechar o Angrajazz, o jazz vocal com a cantora e violinista cubana-suíça Yilian Cañizares, cabendo a Jon Irabagon e ao seu quarteto de excelência fechar o festival: "Quatro grandes nomes nos seus instrumentos, é quase um all star quarteto", refere Miguel Cunha.
Tocar "música bonita"
Além das jam sessions em cafés e bares do centro de Angra, a organização promove duas sessões de divulgação junto de escolas, com o objetivo assumido de captar sangue novo quer para o festival quer para a Orquestra Angrajazz. Esta, formada por músicos amadores da Terceira, faz amanhã a abertura do festival, como é tradição desde 2002.
Pedro Moreira é um dos dois diretores artísticos da orquestra da "casa" (o outro é Claus Nymark), que neste ano junta cinco pesos-pesados do jazz num programa despretensioso, com 1917 no retrovisor: o ano em que foi feita a primeira gravação conhecida de uma peça de jazz por um grupo chamado Original Dixieland Jass Band. "Decidimos fazer uma pequena homenagem. Não tem qualquer pretensão, nem histórica nem cronológica, é simplesmente aproveitar uma efeméride que são várias por coincidência. É um pretexto para tocar uma coleção de temas, um ou outro mais conhecido, como é o caso de Round Midnight, do Thelonious Monk, ou do Night in Tunisia, do Dizzy Gillespie. É um pretexto para tocarmos música bonita, celebrar nomes que nos dizem muito, que nos inspiram, e misturar aquilo tudo num concerto só." Além de Monk, pianista e compositor, e de Gillespie, trompetista, "um dos inovadores, um dos músicos fundamentais na época do beebop nos anos 1940", a big band terceirense vai ainda assinalar o nascimento de Ella Fitzgerald, "que é aquela voz completamente incontornável na história do jazz", de Lena Horne, "uma voz mais desconhecida talvez mais associada a algum tipo de jazz orquestral mas muito próxima do mundo de Hollywood e do cinema", e Tadd Dameron, "um pianista e compositor com um reportório muito influente junto dos músicos de jazz, também com uma carreira interessante ao longo dos anos 1950 e 1960".
in dn.pt
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