sexta-feira, 21 de julho de 2017
As vinhas açorianas que estão a nascer na Ilha Terceira
Na localidade de Biscoitos, muito procurada para veraneio, Anselmo Mendes e a Adega Cooperativa local estão a recuperar as vinhas e a produzir os primeiros vinhos Magma. Um pretexto mais do que perfeito para uma escapada rápida na ilha mais a Leste no Grupo Central dos Açores.
É a segunda ilha mais populosa dos Açores e foi também a segunda do arquipélago a receber voos low cost que, a curto prazo e tal como aconteceu em São Miguel (com quem mantém uma saudável picardia), vão contribuir para dar a conhecer a muitos mais aquilo que poucos já sabem há muito: a Terceira não se estranha, só se entranha. Mais e mais.
Que o diga Nuno Costa, viticólogo: anos atrás trocou o continente pela ilha por amor. Não só não se arrepende como conseguiu cativar o seu antigo colega de curso de agronomia, o enólogo Diogo da Fonseca Lopes, para o património e potencial da localidade de Biscoitos, situada na costa nordeste da Terceira, no que toca aos vinhos. Em 2011, Diogo e Anselmo Mendes, que trabalham juntos na Anselmo Mendes Vinhos, vieram em visita, apenas com a intenção de conhecer e ajudar. Encantaram-se de tal modo com o que viram (e provaram) que, desde então, passaram a dar apoio técnico à Adega Cooperativa de Biscoitos. A parceria teve como primeiro fruto o Muros de Magma, só que o tempo veio provar que a Anselmo Mendes Vinhos precisava de um acordo direto para poder gerir e vinificar.
Biscoitos possui um clima tão agradável que, aos poucos, foi sendo tomado como estância de veraneio.
Os resultados já se veem. Terra de pedras vulcânicas muito duras, que os navegadores portugueses compararam às “bolachas marinheiras” (pão duro com duas cozeduras que comiam a bordo quando tudo o mais lhes faltava), Biscoitos possui um clima tão agradável que, aos poucos, foi sendo tomado como estância de veraneio. Isso provocou uma divisão maior das parcelas de terra e o espaço foi sendo ganho à custa do sacrifício das vinhas em curraletas — o que é uma pena, pois esta faixa climática, como sabiam os antigos, tem condições ideias para fazer bom vinho. Restam 20 hectares de vinhas, sendo apenas quatro da casta Verdelho, que a parceria tem vindo a recuperar. Mais do que recuperar, é bom dizê-lo, estão a alertar-nos para o seu caráter único: sobranceiras ao mar, estas vinhas são alimentadas por um rio subterrâneo e protegidas por uma serra envolta em nuvens, o que garante salinidade, mineralidade e humidade. Além do Muros de Magma, está agora também no mercado o Magma, ambos com novos rótulos que colocam a Terceira e os Açores em evidência. Feitos a partir de uma uva que tem o quilo mais caro de Portugal (1,85 kg), estas colheitas de 2015 deram apenas quatro mil garrafas e valem o que custam.
Uma coisa leva à outra
Já que estamos em Biscoitos, vale a pena reservar um tempo para desfrutar das suas piscinas naturais — melhor ainda, mas é segredo, vale a pena adiante, como fazem os enólogos dos vinhos Magma após as vindimas, e guardar os banhos para a Baía das Pombas. Na costa norte, há ainda as Quatro Ribeiras, perto de Praia da Vitória, com belíssimos promontórios, mas se é para ter toda a ilha de bandeja, mais vale subir logo ao miradouro da serra do Cume. Verde mais verde não há, mas em termos de beleza o Algar de Carvão, um cone vulcânico quase no centro da ilha e a norte de Angra, leva a palma de ouro. E, claro, nunca deixar de fora o Património cultural e humano de Angra, concentrado no miolo histórico da cidade, mantido e reavivado — que cores são aquelas nas portas e portadas? — com brio insular.
in evasoes.pt
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