Às vezes jogo golfe com um Agnelo, outras com um Vielmino. Sou capaz de atravessar a ilha por uma sopa da Tia Urânia e, de sua graça, a mãe de um amigo meu é Olgiva.
Ocorre-me escrever sobre tão extraordinários nomes, mas depois esbarro nos da ilha Graciosa, aqui mesmo ao lado. Seria injusto. A Graciosa é campeã nacional dos nomes, bom, extraordinários.
Na Graciosa, há Adalgiras, Anatazitas e Assuínos, Basilissas, Belmas e Brivaldos. Pais chamaram às filhas Calmerina, Cisbélia ou Crispolina e avós passearam na rua netos com nomes como Dalva, Dénio ou Dilermando.
E não só. Na onomástica graciosense, existe Eldar, Eutímio e Ezulina, assim como Felicíssimo, Firmilindo e Florgêncio; existe Gabínio, Gibela e Gudeberta, do mesmo modo que Hercina, Herma e Higénio.
Algumas pessoas chamam-se Iglantina, Iraílda ou Irzelindo e outras Jacímia, Jovina ou Jurelma. Leobertos, Lernos e Lourinas cruzam-se na rua com Nectários, Neogénios e Nunados, enquanto Obulinas, Orfílias e Ovinas – sim, Ovinas – andaram na escola com Parménios, Polígenas e Porfírias.
Quelmindas e Rosindos. Senhorinhas e Sensitivas. Tomazinhas e Ulurinas – há de tudo. Unerinas. Urbínias. Venerandas. Viminas. Fica o catálogo para as grávidas de todo o país.
Naturalmente, Assuíno e Higénio só aconteceram porque o funcionário do registo tinha acabado de chegar do almoço. Mas eu, percebendo de onde vem “Higénio”, nem quero imaginar o que pretendiam chamar ao Assuíno.
Isto põe bem em perspectiva a criatividade dos nossos pais. Carlas, Sandras e Sónias não eram grandes soluções, mas sempre passam melhor do que Telestinas, Neogénios ou Odeltas.
De resto, prefiro-os todos, os nossos, os dos nossos pais e todos os da Graciosa, a esta profusão de Igors e Jéssicas que agora anda aí.
Por Joel Neto
Sem comentários
Enviar um comentário