Portugal é o país preferido do terceiro mais viajado do mundo
Harry Mitsidis nasceu em Londres, em 1972, é filho de pai grego, mãe sul-africana e fala «um pouco» de português. Em 2008, com 36 anos, completou o objetivo de visitar todos os países independentes do mundo. Agora compete por 1281 regiões, criadas pelo The Best Travelled. Tem preenchidas 1034, o que o coloca, atualmente, como o terceiro mais viajado do ranking mundial. E o mais novo numa posição tão alta. «Portugal representa o paraíso», é o que nos diz em entrevista.
Muito cedo percebeu que queria viajar. Aos 20 anos tinha riscado 20 países da lista, numa altura em que viajar não era tão acessível. Aos 29 completou a Europa e menos de sete anos depois fechou os 193 estados membros das Nações Unidas (ONU). «Mas um verdadeiro viajante nunca se reforma», conta-nos Harry, consciente de que o mundo é enorme e considerando que, mesmo assim, ainda tem muito para conhecer. Agora viaja sem pressa, mas sempre com objetivos e sonhos por concretizar. Quer visitar por duas vezes cada um dos estados da ONU, tarefa que diz já cumprida em dois terços, e ao mesmo tempo cumprir as 1 281 regiões do The Best Travelled. É uma lista criada num consenso entre os mais viajados atualmente, para ser possível continuar a «competir». Redesenharam o mundo em pequenas peças, como um puzzle, quase que esquecendo as fronteiras entre países. E isso deu-lhe, admite, um novo motivo para viajar. Também criam listas para tudo o que é possível conhecer: cidades, aeroportos, museus, ilhas… Aos 44 anos, não viaja para colecionar pontos e melhorar o ranking. «A minha ambição é conhecer o máximo que for possível».
Afinal, o que é viajar para alguém que passou toda a vida a desbravar o mundo? «Viajar não se trata de diversão. Acho que a maioria das pessoas viaja quando vai de férias, passando o tempo numa praia, indo às compras e lá no fundo até interage com a cultura. Mas dedicar uma vida a viajar é um trabalho em full-time que pode ser muito cansativo. É preciso sacrificar muito, para começar é abdicar de ter ‘uma vida normal’».
Harry, no entanto, não se arrepende. Considera que viajar pode mesmo mudar uma pessoa. E torná-la num ser humano espetacular. «Vivemos num mundo em que o medo prospera – e viajar ensina-nos a não ter medo, ensina-nos que as pessoas no geral são nossos amigos, seja onde for, e que a maioria de nós é igual, com as mesmas necessidades, sonhos, dores e problemas, mesmo que as circunstâncias possam ser muito diferentes». Harry acrescenta ainda como viajar nos faz entender melhor o mundo onde estamos, não apenas a nossa cidade ou país, mas como todas as peças estão juntas. «Esta é, provavelmente, a melhor escola da vida».
A primeira vez que visitou Portugal foi em 1999, numa das suas últimas conquistas europeias. Harry não esconde como na altura «era um viajante inexperiente, muito mais novo», e não admirou tanto o país como hoje em dia o faz. Tem visitado mais regularmente desde 2007, mas no total foram cerca de 10 as vezes. Para Harry, «Portugal representa o paraíso. Não gosto de destinos que são perfeitos onde tudo é muito eficiente e com regras infinitas – nesses lugares as pessoas perdem a sua humanidade. Dentro das suas imperfeições, Portugal é fantástico».
É um destino onde Harry faz sempre questão de voltar. Aliás, na semana passada e durante os próximos dias, é por onde tem andado. Aterrou em Lisboa, deu uma palestra numa universidade em Vila Nova de Gaia, esteve na ilha da Terceira e ainda vai voltar ao Porto para um almoço de viajantes (no próximo domingo). Para quem conhece o mundo de uma ponta à outra, aquilo que o seduz em Portugal são sobretudo as pessoas, «tão adoráveis, acessíveis e prontas a ajudar, muito mais do que é o normal na Europa». Depois fala da diversidade, como praias impressionantes, a natureza das serras e as aldeias típicas onde em muitas o tempo parece ter parado. «Admiro a cultura, seja na comida, no fado ou nos azulejos. E também sempre que, com um sorriso, me dizem: ‘fala muito bem português‘». Reconhece como o país precisa e como já caminha noutra direção, como um país europeu moderno, sem esquecer o seu passado. «Por todas estas razões, mas sobretudo pelas pessoas, Portugal está no topo da minha lista. Quero voltar no próximo ano».
Harry, para além de guardar as suas aventuras pelo mundo, também se sente bem ao partilhá-las com quem entende esta sua vida. Sabe o quanto é inspirador. A pergunta de sempre é: como é que se sustenta uma vida de viagens? Harry estudou Sociologia e Negócios, detém três mestrados, incluindo um em Sociologia pela Universidade de Oxford (EUA) e um em Administração de Empresas pela Faculdade de Gestão de Roterdão (Holanda). Tem 15 anos de experiência em lecionar, especializado nas áreas de liderança e comportamento organizacional, tendo ocupado cargos de professor na Finlândia, Suíça, Grécia e Omã. «Viajar não é assim tão caro. Especialmente hoje em dia com as companhias aéreas low-cost, opções de alojamento como AirBnB e com toda a informação que há na internet. Viajar pode custar o mesmo que o custo do dia-a-dia, ou até menos se viajarmos em países no Sudeste Asiático», explica Harry, admitindo que em toda a sua vida tem tido o conforto que precisa, nunca optando por luxos e sempre consciente do orçamento disponível. Amigos e família? «Acontece muito sentir que estou longe, mas tenho amigos em Atenas, onde cresci, que me dizem que me veem mais vezes do que outros que vivem na mesma cidade. Na vida adulta as possibilidades de estar perto de muita gente são sempre limitadas.» Quanto à família, «vamo-nos vendo por aí, muitas vezes em viagem – os meus pais também adoram viajar».
Fonte: Voltaaomundo.pt
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