Se os Açores são únicos, o Walk&Talk também não é um festival como os outros
Pintura do sul-africano Freddy Sam na empena de uma casa de São Miguel, feita na edição de 2015
Durante duas semanas de verão, a sossegada ilha de São Miguel, nos Açores, é sacudida pelo Walk&Talk, o festival de arte urbana e de criações várias que ali leva artistas portugueses e estrangeiros
É assim há seis anos. Todos os verões desde 2011, durante duas semanas, juntam-se em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores, artistas urbanos, artistas plásticos, coreógrafos, encenadores, designers, músicos e muitos outros criadores que interagem com as comunidades locais. A edição deste ano do festival Walk&Talk começa já esta sexta-feira, 15, e prolonga-se até ao último dia do mês. Lá mais para setembro, de 23 a 1 de outubro, haverá uma extensão a Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, uma das novidades deste ano do festival que se tem vindo a estender com várias atividades ao longo do ano. “O Walk&Talk já não tem princípio e fim. Além de um festival anual, constitui-se uma plataforma de programação contínua que anda e fala pela reflexão, criação e circulação artística contemporânea, ao longo de todo o ano e em múltiplas geografias”, diz a organização. Há muito, na verdade, que esta edição já mexe e exemplo disso foram as residências, antes do verão, do compositor norte-americano Thurston Moore ou do coreógrafo brasileiro Gustavo Ciríaco.
É, no entanto, nestas duas semanas que a ilha de São Miguel não tem sossego. Os primeiros dias serão passados numa lufa-lufa de inaugurações: na Galeria Walk&Talk, a abertura oficial do festival desvenda a exposição Lua Cão, com obras de Alexandre Estrela e João Maria Gusmão e Pedro Paiva, comissariada por Natxo Checa, diretor artístico da Galeria Zé dos Bois em Lisboa; Susana Mendes Silva expõe Aviatrix na Galeria Fonseca Macedo (R. Guilherme Poças Falcão, 21); a Oficina do Cego comissaria Culto da Carga, na Galeria Miolo (R. Pedro Homem, 45); Tiago Alexandre e Horácio Frutuoso apresentam Black Dolphin no Primeiro Andar / Louvre Michaelense (R. António José d'Almeida, 10); Francisca Manuel e Elizabete Francisca, João Cristóvão Leitão, João Pedro Fonseca, finalistas da competição selecionados por Irit Batsry do Temps D'Images, expõem Loops.Lisboa no Centro Municipal de Cultura; e Nuno Paiva mostra Portal no bar e galeria Arco 8 (Av. Abel Ferin Coutinho).
A Galeria Walk&Talk recebeu, no ano passado, uma exposição coletiva comissariada pelos artistas plásticos João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira
Sara Pinheiro
Um fim de semana que incluirá ainda uma festa noite dentro ao som de VJ Suave, Sonja e Caroline Lethô, na sexta-feira, 15. No dia seguinte, estreia a coreografia #DanceWithSomebody, de João dos Santos Martins, que ali esteve em residência com o 37.25 – Núcleo de Artes Performativas, um grupo de bailarinos de São Miguel (Teatro Micaelense, Lg. São João, 16 jul, sáb 21h30). A noite seguirá ainda com um concerto dos 3rd Method na Galeria do festival (23h30).
Depois, até 31 de julho, será ver em ação um verdadeiro “ecossistema criativo”, como lhe chamam. O circuito de arte pública chega a esta sexta edição com cerca de 80 peças em São Miguel, entre murais, esculturas e instalações (Vhils será o mais mediático dos artistas que já deixaram marca nas paredes da ilha) e, a partir deste ano, passa a ter um foco definido. Nesta edição, o trabalho será em torno da arquitetura e design, centrando-se no Quarteirão, uma zona de Ponta Delgada onde estão a surgir vários novos projetos. Uma parceria do Walk&Talk com o Mezzo Atelier, dos arquitetos Giacomo Mezzadri e Joana Oliveira, onde participarão, entre outros, o português Nuno Pimenta, os italianos Orizzontalle, o argentino Elian Chali ou a espanhola Reskate.
Ao todo, passam pela ilha até final do mês cerca de 80 artistas, incluindo o ator e encenador Pedro Zegre Penim que já está a trabalhar com o grupo de teatro A Pontilha de Ponta Delgada, os designers Miguel Flor, Sam Baron, Pedrita e VivóEusébio e muitos outros. São Miguel só descansa em agosto – e a Terceira já se prepara para o que aí virá com a chegada do outono.
No ano passado, o norte-americano Christopher Derek Bruno deixou esculturas junto à Lagoa das Furnas
Rui Soares
in visao.sapo.pt
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