Centro de Artes dos Açores ganha Prémio FAD de Arquitectura
O Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas da Ribeira Grande, Açores, desenhado por João Mendes Ribeiro, Francisco Vieira de Campos e Cristina Guedes, foi distinguido com o Prémio FAD de Arquitectura 2016. Os FAD (Fomento de las Artes y del Diseño) foram atribuídos numa cerimónia realizada na noite de quarta-feira em Barcelona em várias e são considerados os mais importantes prémios dedicados à arquitectura ibérica.
O projecto, que é uma recuperação de uma antiga fábrica de álcool e tabaco e também uma ampliação, resulta de uma parceria entre Francisco Vieira de Campos e Cristina Guedes, do atelier Menos é Mais (Porto), e João Mendes Ribeiro (Coimbra).
O júri destaca que “a cuidada forma de utilizar e conjugar os materiais contribui para a subtil alquimia que faz desta casa das artes um lugar acolhedor”. “A delicadeza, que não menospreza a forte identidade do complexo e do lugar, e a recuperação da arte de construir bem são algumas das questões que convém destacar de um projecto que devolve a presença do passado ao presente e ao futuro." O júri sublinha que se trata de um lugar longínquo – a cidade da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel – onde se constrói “um pólo de criação e cultura, orientado para incentivar as residências artísticas nacionais e internacionais e a sua articulação com a comunidade”.
“É sempre muito importante este reconhecimento internacional, mais uma vez, da qualidade da arquitectura portuguesa, que tem características muito particulares. O júri discutiu muito essa questão: o regresso à arte de saber construir. É uma arquitectura marcadamente artesanal mas com grande rigor construtivo. Os arquitectos estão muito ligados à oficina, aos meios de produção”, diz ao PÚBLICO João Mendes Ribeiro. O arquitecto, que já ganhou outro FAD em 2004, na categoria de Interiorismos, com o Centro de Artes Visuais de Coimbra, conta que o júri, quando visitou o Arquipélago, ficou muito sensibilizado com o envolvimento das pessoas com a arquitectura. “A empatia das pessoas que trabalham lá e que visitam o edifício. A programação tem sabido utilizar o edifício e há uma componente de formação de públicos, nomeadamente através das escolas, que tem sido feita com grande competência. Acho que a direcção tem feito um bom trabalho.” Talvez por isso, na primeira fase da sua apreciação, o júri tenha escrito que este “é um projecto ambicioso fruto da arquitectura”.
Por seu lado, Cristina Guedes destaca ainda o facto de "o prémio divulgar uma obra insular", no caso do seu atelier feita em colaboração, ou seja, "uma obra colectiva". "Tudo o que sirva para dilvulgar o Arquipélago é importante."
O júri principal desta edição, presidido pelo arquitecto Moisés Gallego, conta com a designer de interiores Maite Prats, a arquitecta portuguesa Patrícia Barbas e mais três colegas: Eduardo de Miguel, Rosa Remolà e Julia Schulz-Dornburg.
O Metro que é uma ruína moderna
O Prémio FAD de Interiorismo foi entregue às três estações de Metro da linha L9 em Barcelona e Hospitalet, uma obra de Garcés-de Seta-Bonet Arquitectes e Tec4 Enginyers Consultors. O júri diz-se impressionado "pela inteligência na leitura da pré-existência, como se se tratasse de uma escavação arqueológica", acrescentando que as estações são “uma ruína moderna trabalhada de maneira quase museológica” e “parecem saídas de um cenário pós-apocalíptico”.
Já o Prémio FAD de Cidade e Paisagem distinguiu o Mirador da Pedra da Rá, de Riveira (A Coruña), do arquitecto Carlos Seoane, enquanto o Prémio FAD Internacional foi atribuído à obra Córdoba Reurbano, da Cidade do México, assinada por Eduardo Cadaval Narezo e Clara Solà-Morales.
Entre os finalistas ibéricos na categoria de Arquitectura, o Arquipélago concorria com vários projectos portugueses, como o Teatro-Auditório de Llinars del Vallès, de Álvaro Siza (com Aresta+GOP), o Mercado de Abrantes, de José Mateus e Nuno Mateus, o Museu dos Coches, de Paulo Mendes da Rocha e Ricardo Bak Gordon, ou ainda uma Casa em Oeiras, de Pedro Domingos.
Na altura da inauguração do Arquipélago, em Março de 2015, os três arquitectos, que nunca tinham construído nos Açores, contaram que tinham encontrado uma fábrica do século XIX, muito arruinada, construída em pedra de basalto, onde seria difícil instalar algumas das valências sugeridas no programa do concurso, como uma sala de espectáculos ou as reservas. Construíram dois volumes de raiz, o que os ajudou a densificar o lugar, criando “um espaço público mais referenciado”, explicou João Mendes Ribeiro.
O projecto explora o contraste entre as linguagens construtivas do passado e do presente – a construção em alvenaria de pedra basáltica e a construção em betão aparente – e procura, ao mesmo tempo, fazer uma síntese plástica. É no betão que esta síntese é conseguida, com a introdução da pedra basáltica vulcânica como inerte, a que se acrescentou ainda um pigmento, o que dá uma aparência mais escura do que a do betão normal. “Há uma intenção muito clara nos nossos trabalhos de ligar a nostalgia com a tecnologia, levar isso ao limite. Como é que nós conseguimos trazer para dentro de uma técnica construtiva actual a matéria que constrói de facto estes edifícios [antigos]”, explicou, também no ano passado, Francisco Vieira de Campos.
Projectos actuais
Neste momento, João Mendes Ribeiro está a acabar a reabilitação de uma estufa do século XIX no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, que passa também pela construção de um pequeno edifício de apoio de raiz, e tem também em mãos a requalificação das Termas Romanas de São Pedro do Sul, com a construção de um centro interpretativo, numa colaboração com o arquitecto paisagista João Gomes da Silva.
O atelier Menos é Mais está representado na Bienal de Veneza na exposição Reporting from the Front com o teleférico de Gaia, ao lado de seis outras presenças portuguesas. Estão a reformular as barreiras de protecção dos contentores do Porto de Leixões, a fazer um projecto de enoturismo na Quinta do Orgal, em Foz Côa, na sequência do trabalho realizado na Quinta do Vallado, e a recuperar a igreja da Conceição Velha, em Lisboa.
Em 2015, os prémios FAD, na categoria de arquitectura, distinguiram Pedro Campos Costa pelo projecto de reabilitação do hotel Ozadi em Tavira, em ex aequo com a Casa Bastida de Begur, em Girona (Espanha), dos arquitectos Elisabet Capdeferro e Ramon Bosch.
in publico.pt
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