segunda-feira, 9 de maio de 2016

Nova aplicação informática diz quando a água está quente na Ferraria



Aplicação feita por jovem ucraniano, que esteve na Roberto Ivens e foi seis anos aluno da Escola Secundária Antero Quental, informa a que horas a água está quente na Ferraria



“No espaço de um ano comecei a falar português e uns meses depois já dominava melhor a língua”, justificou Oleksandr quando questionamos o facto de falar fluentemente português.


“Estive 6 anos na Escola Antero de Quental e entrei rapidamente no circuito das aulas, acompanhando os colegas sem problemas”, acrescentou o agora mestre em engenharia informática e de computadores, curso tirado na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

A ambientação a uma ilha foi rápida. A natureza e o mar contribuíram decisivamente. “Na Ucrânia só uma vez vi o mar”, começou por nos dizer Oleksandr, “porque tínhamos de percorrer muitos quilómetros, demorando um dia e uma noite para cada lado”.

“Sempre gostei imenso de pescar, o que fazia no rio que ficava mais perto de casa, mas, aqui, na ilha, deslocava-me a pé, para a zona de S. Roque e ali passava muitas horas do dia a pescar”, continuou a descrever a paixão pelo mar.


“Comecei a aprender a Ferraria com as pessoas da ilha”


Até que chegou à Ferraria.
“Um dia, uns amigos nossos, de nacionalidade russa, que já viviam em Ponta Delgada, levaram a nossa família a visitar a Ferraria” e ali “foi amor à primeira vista”.
“É um local diferente de todos os outros. Ter água quente no mar não é nada vulgar”, sendo, por isso, o lugar de eleição de Oleksandr, levando alguma vantagem em relação às Furnas.
“Ali descontraímo-nos pelo sossego que nos é oferecido e não dá para pensar que há magma por baixo, que trata-se de um local com alguns perigos, havendo uma barreira entre o medo e o prazer”, classificou, Kruk.
Mas não há bela sem senão. Oleksandr critica a falta de civismo das pessoas que vão destruindo algumas obras que anualmente ali são feitas, “porque as que a natureza destrói não se podem evitar”.
Mas como saber a que horas está a água quente? Essa era a pergunta que o jovem de 26 anos de idade fazia com frequência. É que das muitas viagens à Ferraria, algumas para mostrar a amigos do exterior aquela maravilha da natureza, encontrou a água fria.
“Aprendi com os locais da ilha que a água começava a aquecer duas horas antes da maré baixa e ficava fria (da temperatura do mar) aproximadamente duas horas depois da maré baixa”, foi a primeira conclusão para a dúvida que o assolava, acabando por comprová-lo ao longo das inúmeras visitas à Ferraria.
E por que não desenvolver uma aplicação que dê aos utentes uma informação de que a água estará quente num determinado período do dia? A ideia foi madurando.

Aplicação ‘Ferraria Hot Springs’

Cedo Oleksandr Kruk começou a trabalhar. Ainda estudante colaborou com a famosa empresa que criou a MP3. Terminado o curso, várias propostas surgiram. Esteve em Lisboa durante 3 anos. Percorreu duas empresas, até que um dia recebeu o convite de uma conceituada firma de Londres, sediada na zona da City. Em Outubro, três meses após ter contraído matrimónio com uma jovem micaelense, ambos partiram rumo a Inglaterra. Como têm-no feito várias dezenas de açorianos.

“Nunca desisti da ideia de criar um sistema que servisse os interesses dos locais e dos visitantes, cada vez mais a deslocarem-se à Ferraria”. Assim, quando saía do emprego, ocupava os serões na preparação da aplicação.

“Já venho há algum tempo trabalhando na aplicação, mas nos últimos três meses dediquei mais tempo por forma a poder testar nesta visita à ilha de S. Miguel e verificar se tem interesse e se é útil”, adiantou Oleksandr Kruk.

Mas como se consegue saber se a água está ou não quente?
“A aplicação ‘Ferraria Hot Springs’ é uma aplicação nativa do sistema operativo móvel Android. Para poder fazer os cálculos dos intervalos de horas em que a água está quente, a aplicação acede a um serviço online que fornece as tabelas de marés. A informação das marés é de seguida interpretada para poder extrair apenas as horas das marés baixas. Depois de extrair as horas das marés baixas, basta aplicar uma conta de subtrair e somar (2 horas em cada sentido) e obtém-se o intervalo em que existe grande probabilidade de a água estar a uma temperatura superior à temperatura média do mar. Para além das marés, Ferraria Hot Springs também faz uso de um serviço de meteorologia para buscar informação sobre o estado do tempo nos intervalos em que a água está quente e utiliza também o serviço de mapas da Google, Inc. para ajudar as pessoas a chegar à Ponta da Ferraria.”

A explicação está dada. Nos próximos dias poderá encontrar-se Kruk de telemóvel na mão a testar se a aplicação resulta.

“Estou preparado para outras funcionalidades e para mais línguas”

Contudo, este trabalho não tem apenas a criação de Oleksandr. A parte gráfica é indispensável para atrair os utilizadores. A resposta estava em casa.

“A minha irmã Maryana, designer, executou a parte gráfica. Foram feitos vários desenhos por forma a definirmos qual a melhor forma de apresentar os dados, optando, por fim, por uma versão simplista, que fosse intuitiva para todas as faixas etárias. Mas é um trabalho de aperfeiçoamento contínuo”.


Em termos de custos, Kruk apenas despendeu a verba para a compra da licença de publicação da aplicação na Google Play. Agora, é necessária a ajuda para que a aplicação seja conhecida. Há a intenção de que seja colocada nos sites oficiais que estão ligados ao turismo e que as unidades hoteleiras, as empresas de carros de aluguer e as agências de viagens possam ser canais de promoção da aplicação, usufruindo de informação privilegiada que passe aos clientes.



“Se não houver uma boa promoção, o produto morre. Por isso, espero a colaboração de todos os que estão ligados ao turismo por forma a que dêem conhecimento. Não é um produto que estou a comercializar. Apenas um contributo para que haja mais pessoas a visitarem a Ferraria, um dos meu locais de eleição”, confessou o engenheiro informático, já ligado a grandes trabalhos na área da infomática.

“Se resultar e se houver um número de consultas que ache interessante, estou preparado para colocar outras funcionalidades, e traduzir para mais linguas para além de português, inglês, ucraniano e russo, disponíveis presentemente e suportar a plataforma iOS”, rematou Oleksandr, que reconhece estar a correr um risco “calculado”.

Assim fechamos o diálogo sobre esta inovação que ajudará a que a Ferraria ganhe um maior número de visitantes. A bola está no campo dos agentes, a começar pela Associação de Turismo dos Açores. Que não desperdicem esta oportunidade de um jovem que se sente açoriano e quer projectar a terra que o acolheu.

Fazer download aqui da aplicação

Fonte: Correio dos Açores

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