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Genuíno Madruga o pescador açoriano que deu duas voltas ao mundo em iate solitário


Nasceu na ilha do Pico nos Açores, uma ilha de destemidos pescadores do cachalote. Tem 65 anos, é pescador desde os 12 anos e não necessita de apresentações. É um cidadão do mundo e para além do seu restaurante onde o peixe fresco e a gastronomia é levada ao expoente máximo, obrigatório se torna, mal “aportemos” a bonita ilha do Faial, rumar ao Porto Pim e procurar o Genuíno Madruga. Cidadão do mundo por mares que os nossos descobridores navegaram, com duas voltas ao mundo em veleiro e solitário é comendador da Ordem do Infante D. Henrique atribuída pelo então presidente da República Jorge Sampaio
A Horta, ilha no caminho dos grandes velejadores tem o mundialmente conhecido Peter Café Sport e o Genuíno restaurante, na Areinha Velha no Porto Pim, devidamente decorado com as recordações de duas voltas ao mundo de velejador solitário. Visitámos o Genuíno e ficámos a conhecer um açoriano que distribui a cultura portuguesa e dos seus Açores amados, pelo mundo. Dotado de grandes conhecimentos nas suas duas voltas ao mundo, acima de tudo fez uma homenagem aos nossos antepassados que sulcaram estes e outros mares e, ao contornar na 2ª volta o Cabo Horn aos açorianos que no Uruguai fundaram cidades e, a grande epopéia dos açorianos em terras do sul do Brasil. A sua singela homenagem- qual lobo de mar.
Genuíno Alexandre Goullart Madruga, quem é afinal o Genuíno?
Nasci na freguesia de S. João na ilha do Pico e já lá vão 65 anos, nasci no dia 9 de Dezembro de 1950. Sempre foi pescador, desde os 12 anos que ando no mar e contínuo, tenho um barco de pesca e contínuo a pescar!

Veio da ilha vizinha, da ilha da mais alta montanha de Portugal para a Horta há muitos anos?
Vim com os meus pais, e meus irmãos, para o Faial, quando terminou o vulcão dos Capelinhos, ou seja no Verão de 1958.

Quando esta ilha teve o grande êxodo de emigração!
Exatamente, saíu muita gente para os EUA e, ao Faial começaram a vir gentes do Pico e de S. Jorge e por aqui fiquei e fiz a minha vida.

Sempre ligado ao mar e sem nunca perder o mar de vista?
Sem nunca perder o mar de vista, aliás quem mora numa ilha, tem sempre o mar por perto…

E sem nunca perder o rumo certamente. E de onde vem o gosto pelos veleiros que o levaram por “mares já antes navegados” mas por mares de aventura em que por duas vezes dá a volta ao mundo, partindo das suas ilhas?
Cresci aqui, ligado ao mar, sempre a ver os que chegavam e os que partiam e pelos anos 60, os iates que por aqui aportavam, chamavam-se os aventureiros, que vinham das mais diversas paragens. No liceu ia estudando inglês e francês e, assim que tinha possibilidade lá metia as minhas conversas e lá ia sabendo de onde vinham e para onde iam e lá ia ficando com as minhas ideias, pois se eles vinham daqui ou dali eu imaginava e pensava, também pode ser que eu um dia possa ir aí e caminhar por esse mundo. E assim foi.
Entretanto também tive a felicidade de conhecer, aqui, pessoas excepcionais, na área da navegação deste tipo de embarcações, arranjar dinheiro para o barco, o que não foi fácil, mas com o apoio da minha família, dos meus filhos da minha esposa, lá fomos tratando de arranjar dinheiro para o comprar e comprei um veleiro na Alemanha. Batizei-o de Hemingway em homenagem ao grande escritor Ernesto Hemingway autor do célebre livro “ o velho e o mar”. Um veleiro de 11 metros, que para este tipo de viagem e; fazendo o comparativo é como fazer o Paris – Dakar com um Fiat Panda e depois no mar há os Mercedes, os Rolly Roice os Ferraris, tem de tudo no mar. Eu comprei aquilo que foi possível comprar com os meios que tinha. Antes de comprar o barco já a 1ª volta ao mundo estava toda programada. Quando marquei a primeira viagem no ano 2000 e, em que saí a 18 de Outubro de 2000, uns três meses antes, marquei a data de partida e o dia da chegada.

E consegue prever numa viagem tão longa e que depende das condições atmosféricas e do mar; saber quando se chega?
Sim, e cheguei conforme tinha prometido no sábado de Espírito Santo do ano de 2002, depois de 19 meses navegando, às 15H00.

Um homem de fé?
Vamos ver, poderia não ser, mas o Espírito Santo aos açorianos diz muito. São as festas mais importantes destas ilhas e que todos se reúnem no seu seio. A primeira viagem foram 19 meses e a segunda 21 meses (de 2007 a 2009). Enquanto na primeira viagem, atravessei do Atlântico para o Pacífico o canal do Panamá, que é qualquer coisa excepcional, na segunda viagem desci toda a costa da América do Sul e passeio pelo Cabo Horn e passei a fazer parte da Confraria do Cabo Horn que ali está sediada.

É dos poucos portugueses que fazem parte dessa confraria?
Os únicos portugueses que fazem parte dessa confraria dos capitães do cabo Horn, por direito próprio é o agora Capitão de mar e guerra da Marinha de Guerra Portuguesa - Pedro Proença Mendes, que passou ao comando do navio Escola Sagres e sou eu, embora com estatutos diferentes – ele passou ao comando de um navio com tripulação a bordo e, eu passeio ao comando do meu navio, sozinho! Os estatutos são diferentes, mas somos os únicos que fazemos parte dessa Confraria e que representam este país “ à beira mar plantado”.
A Confraria é do que há de mais em termos de navegação do mundo - a Confraria dos Capitães do Cabo Horn. Para mim é um honra.

Fez sempre as suas voltas solitário?
Solitário tendo como combustível o vento, como navegaram os nossos antepassados, mas com a ajuda do GPS, já que de outra maneira seria muito difícil, ou mais difícil navegar. Os meus conhecimentos de navegação foram adquiridos em duas escolas. Na escola de marinha e comércio em Pedrouços, Lisboa, onde obtive os conhecimentos teóricos; e a segunda escola da qual ainda não saí e para a qual entrei com 12 anos - é a escola da vida. 
Uma sem a outra não dá, não funciona, mas os conhecimentos que adquiri na pesca foram fundamentais para estas duas voltas ao mundo que realizei com sucesso e chegasse a bom porto.

E quando não há vento? O que faz um marinheiro solitário?
Quando não há vento, espera-se, aguarda-se. Tenta-se ocupar o tempo da melhor maneira possível, seja a escrever, cozinhar, arrumar o barco, ouvir a estação de rádio, tanta coisa; pois sou rádio amador. Jamais se pode entrar em stress nem em solidão...

Uma curiosidade. Para dormir, quem guia o veleiro. Não pára?
Nunca pára. Não se dorme descansado, acima de tudo há a segurança e a segurança sou eu que a faço. Se há condições para dormir alguma coisa, dorme-se, se não há condições não se dorme. 
Aliás só durmo descansado num porto, onde sabia que o meu barco estava em segurança e mesmo no barco dormia sempre no convés. No Oceano Indico nunca falta vento e é estar sempre muito atento, mesmo no próprio Pacífico.

Qual a distância de uma volta ao mundo?
Nas minhas contas e nas minhas duas voltas uma média de 35 000. Nas das voltas naveguei de Leste para Oeste.

E para quando a próxima volta ao mundo?
Não está fora e eu nunca disse que não; se disser que não acabou, se disser que sim é seguir viagem.

E este restaurante, é a sua “menina de olhos” para além dos filhos, da sua esposa Beatriz que nascida em Porto Alegre, uma cidade fundada por açorrianos no Brasil e do seu Hemingway?
Neste restaurante, aqui está muito da minha vida, as recordações que trouxe do mundo e que, disponibilizo para os clientes verem. Trabalhamos aqui com o nosso peixe, pescado neste mares e tudo o que de regional se produz nos Açores e vir à Horta e não vir à melhor praia destas lindas ilhas dos Açores o Porto Pim, não é conhecer os Açores e, orgulho-me de por aqui passar muitos mas muitos amigos.

Fonte: mundoportugues.org

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