16 dias nos Açores. “Foi a melhor viagem que eu já fiz”
RUI OCHÔA
Os números do turismo em Portugal aumentaram em todas as regiões do país em 2015. Os Açores destacam-se com a melhor evolução, ainda que os 428 mil hóspedes que visitaram as ilhas estejam longe dos 5,2 milhões que visitaram a região de Lisboa. De onde vêm os turistas que chegam a Portugal? E o que tem acontecido nos Açores? Stephanie Foster, americana com família norueguesa, aproveitou um estágio na ilha do Faial para vir dos Estados Unidos conhecer os Açores. “Fez-me lembrar os campos e paisagens das zonas rurais da Noruega”
Stephanie vive em Woodbrigde, cidade americana no estado do Connecticut. Tem 21 anos, está num curso de preparação para entrar em Medicina e decidiu candidatar-se a um programa de estágios que lhe permitia acompanhar médicos num hospital em Portugal ou em Espanha.
A sua primeira escolha foi Portugal. “Quanto mais pesquisava, mais tinha a certeza de que queria fazer este estágio numa das ilhas dos Açores, em vez de qualquer outro dos locais possíveis. As ilhas eram incrivelmente bonitas e cheias de história”.
Escolheu fazer o estágio no Hospital da Horta, na ilha do Faial, e esteve nos Açores durante 16 dias, em janeiro deste ano. Foi a sua primeira visita a Portugal e à Europa do Sul, pois os países escandinavos já faziam parte do historial de viagens - em especial a Noruega onde tem família e onde vai todos os anos desde que nasceu.
“O programa ‘Atlantis Project’ permite-nos passar os dias de semana no hospital, ao lado de médicos de várias especialidades para acompanhar o seu trabalho e aprender mais sobre os cuidados de saúde internacionais”, conta ao Expresso, por e-mail, já de regresso a casa. “A viagem foi praticamente toda planeada pelos responsáveis do programa. Eles coordenaram o estágio no hospital e semanalmente tínhamos duas ou três excursões e atividades como caminhadas ou visitas a museus.”
Stephanie Foster nada sabia sobre a região antes de vir. “Para ser mesmo honesta, não tinha a certeza onde ficavam os Açores antes de me candidatar para esta viagem. Mas assim que comecei a contar às pessoas onde ia, descobri que muita gente já tinha ouvido falar das ilhas. E eu afinal até conhecia açorianos ou pessoas que casaram com açorianos, mas não sabia disso até vir à conversa a propósito da viagem.” E quando veio tinha dois objetivos. “Pessoalmente, apesar de ter ido por causa da experiência no hospital, procurava explorar a ilha e experienciar a cultura, mais do que qualquer outra coisa.”
Os Açores foram a região do país onde se registou o maior aumento percentual de turistas e de dormidas no ano passado (mais 24% de hóspedes e 20% de dormidas), segundo as estatísticas divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Em termos absolutos, os números mostram que houve mais 35 mil hóspedes nos Açores em 2015, num total de 428 mil – um número ainda assim muito distante dos 5,2 milhões de turistas que estiveram hospedados na área metropolitana de Lisboa (mais 6,4% que no ano anterior, ou seja, mais 318 mil pessoas).
Os números ficam também longe dos 3,7 milhões de turistas que estiveram no Algarve – mais 139 mil que no ano anterior, o que representa um aumento de 3,9%, o mais baixo de todas as regiões.
Quanto a estes números, Desidério Silva, presidente do Turismo do Algarve, explica que não está em causa um sinal negativo, mas sim o facto de “as outras regiões partirem de uma base de crescimento muito pequena”.
“Os indicadores do turismo no Algarve são muito bons. Janeiro e fevereiro já têm números muito superiores a 2015 e as reservas subiram consideravelmente”, defende, acrescentando que o turismo de natureza, em especial o “cycling”, tem subido na região.
O AUMENTO DO TURISMO A NÍVEL NACIONAL
Em geral, os dados mostram que em todas as regiões se registou um aumento do turismo. A nível nacional, registaram-se 17,4 milhões de hóspedes e 48,9 milhões de dormidas em 2015 e se recuarmos uma década identifica-se um aumento de 52% no total de hóspedes e 38% no número de dormidas.
Para essa melhoria do turismo em Portugal, Carlos Costa, docente e diretor do programa de doutoramento em Turismo na Universidade de Aveiro, aponta dois fatores. “Portugal é um país excecional para turismo e tem os ingredientes para ser um grande destino mundial. Também temos elementos de modernidade: uma rede de estradas, uma rede de universidades, centros históricos renovados”, descreve.
“E há uma segunda vertente: o que está a acontecer à volta da Europa. Temos uma situação de guerra nos nossos destinos concorrentes”, explica o investigador, fazendo referência ao Egito e à Tunísia, para além dos problemas que se verificam na Grécia ou na Turquia, com a vaga de migrantes e refugiados.
“O mercado do turismo tem influência macroeconómica e supranacional”, sublinha, para sustentar as razões que contribuíram para o impulso do turismo português. “A promoção tem sido mais eficiente e mais efica, e isso é fundamental. Mas Portugal precisa de ir muito mais longe: precisa de se organizar melhor em termos de oferta.”
STEPHANIE FOSTER
“OS ESCANDINAVOS ADORAM OS AÇORES”
Quanto aos números dos Açores, Carlos Costa lembra que é uma “das partes excecionais do país”. “Tem um potencial fabuloso de ecoturismo e o nicho do ecoturismo está a crescer potencialmente a nível mundial”, explica, salientando dois grandes mercados em crescimento.
“Há os escandinavos que adoram os Açores, até porque têm uma grande sensibilidade para o ecoturismo, e os Estados Unidos porque têm uma diáspora portuguesa. Os melhores elementos de promoção dos Açores são as próprias pessoas e os açorianos vão dando cartas lá fora.”
Stephanie Foster, identifica essa proximidade entre os escandinavos e os Açores. “Os noruegueses, assim como todos os escandinavos, têm um grande gosto pela natureza e pelo ambiente, o que difere em muito da grande maioria dos americanos. De facto, estar no Faial e no Pico fez-me lembrar os campos e paisagens das zonas rurais da Noruega. Há muitas semelhanças entre os dois locais, como os terrenos agrícolas, os campos abertos e o oceano ali ao lado.”
Também a história ligada às baleias é comum entre os dois países. “No passado, muitos baleeiros escandinavos atracaram nos Açores e muitos marinheiros escandinavos continuam a viajar e a passar junto das ilhas açorianas hoje em dia.”
É precisamente à frente de uma empresa de observação de baleias (“whale watching”) na ilha de São Miguel, que Miguel Cravinho, sócio-gerente da Terra Azul, tem acompanhado de perto a evolução do turismo na região. E esse aumento está relacionado com dois fatores, na sua opinião. Um deles é a liberalização do espaço aéreo e entrada das operadoras lowcost, que permitiram levar portugueses do continente até aos Açores. “Há pessoas que já tinham viajado pela Europa toda sem ter vindo aos Açores.”
Essa abertura, associada ao segundo fator - o “colapso da oferta do mercado no Norte de África” -, foram “um enorme desafio” para a região. No que toca à atividade do “whale watching”, Miguel Cravinho defende que o que falta é pôr a observação de baleias nos Açores – onde é possível encontrar 24 espécies de baleias, ou seja, um terço do que existe no mundo – a competir com os melhores.
QUEM É QUE VEM A PORTUGAL?
Mais de metade dos turistas que visitaram os Açores no ano passado eram portugueses (52%). E o que os dados do INE mostram é que também nas regiões Norte, Centro e Alentejo houve mais turistas portugueses do que estrangeiros. Já na Madeira, Algarve e Lisboa, os turistas não-residentes superaram os portugueses.
Reino Unido, Alemanha, Espanha e França mantêm-se no topo dos países de origem do maior número de turistas. As oscilações dos números entre 2014 e 2015 – que mostram um aumento das dormidas dos turistas italianos ou dos americanos, e uma diminuição dos brasileiros – podem resultar de fenómenos temporários, alerta Carlos Costa. “É um período curto para ver uma tendência. Por exemplo, o que aconteceu no último ano aos brasileiros? Foi o real que perdeu valor face ao euro. A Europa custa-lhes mais agora.”
Alemães e americanos são os turistas estrangeiros que mais visitam os Açores. E na opinião de Stephanie Foster a região poderá tornar-se “mais popular” como destino de férias.
“Não só é um sítio incrível e de cortar a respiração, como tem uma beleza natural que só vendo é que se acredita nela”, escreve. “É verdadeiramente um ótimo sítio para se visitar. Já viajei bastante na minha vida, mas a minha experiência nos Açores foi honestamente a melhor viagem que eu já fiz.”
STEPHANIE FOSTER
The reason theres no more azoreans visiting the Islands from the USA and Canada is.
ResponderEliminar1- Limited flights
2- Exaggerated prices
Cheaper to go Carabeans all inclusive, or fly to China from Boston, then it is to fly to Azores.
Shame on Azores Airline and the Government.
Felizmente tenho o privilégio de conhecer todas as nove ilhas dos Açores, comecei por Ponta Delgada e Terceira ( no primeiro ano), no segundo Faial, Pico e S. Jorge e no seguinte Santa Maria, Graciosa, Flores e Corvo. Cada uma com a sua beleza e a hospitalidade das suas gentes,mas adorei especialmente S. Miguel, as Flores e o Corvo.
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