No litoral norte da ilha das Flores, há uma aldeia por onde nunca circulou um veículo motorizado e que se mantém fiel ao traço da arquitectura rural da ilha. São quinze casas de pedra nua reabilitadas num cenário único de montanha e mar.
Não é exagero algum: a aldeia da Cuada fica numa das zonas mais remotas da Europa, no meio do Atlântico, a meia caminho das Américas. Na ilha das Flores, uma das nove ínsulas do arquipélago dos Açores, a cerca de trezentas milhas marítimas de São Miguel, o pedaço de terra habitado mais ocidental do continente europeu.
A aldeia está situada no litoral norte das Flores, entre as povoações da Fajã Grande e da Fajãzinha, e conheceu o abandono e a decadência originados pela emigração nos anos 60 do século passado, essencialmente com destino ao continente americano. A partir dos anos 70, a Cuada estava praticamente despovoada, o casario rodeado de silvas e com a garantia de um destino incerto.
A léguas do turismo de massas, o viajante pode ali colher a flor de uma aprazível solidão e deixar-se imergir nos imponderáveis caprichos dos elementos: o vento, a chuva, as névoas que abraçam as lagoas, ou o sol que irrompe ternas carícias em súbitas manhãs primaveris.
Quem ali vai parar sabe ao que vai e o que busca. Uma intimidade sem par com a natureza, com o vento, as neblinas, os bramidos dos cagarros durante a noite, os coelhos a rondarem os prados à volta das casas. A aldeia, sobranceira ao mar, é vizinha de um aparatoso cenário de falésias e está ligada ao litoral, nomeadamente à Fajã Grande e à Fajãzinha, por trilhos pedestres que eram, antigamente, calcorreados pelos antigos habitantes e que se mantêm transitáveis.
Não haverá hoje na Europa, em abono da verdade, muitos lugares onde se possa experimentar a sensação real de se estar tão radicalmente afastado da crescente agitação do mundo moderno.
Fonte: vortexmag.net
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