Os Areais de Santa Bárbara ofereceram condições de excelência para o dia final do SATA Azores Pro 2015 presented by Sumol e o espetáculo foi de alto nível no desfecho deste QS10000 açoriano. Tubos de qualidade de manhã, belas e longas paredes de tarde, pontuações altas, surfistas com carimbo de elite mundial e performances incríveis foram os ingredientes desta sexta-feira em São Miguel. No final a vitória desta vez não sorriu para um brasileiro, com o australiano Jack Freestone a regressar aos grandes triunfos.
Sim, leram bem. Freestone. O namorado de Alana Blanchard. Mas está na altura de acabarmos com os rótulos do rapaz. Quem veio aos Açores não foi o namorado da mediática – e bela - surfista havaiana, mas sim o jovem talento australiano que espantou a tribo do surf com os dois títulos mundiais juniores que conquistou em 2010 e 2012. Dono de um talento único, Jack tem demorado a conseguir estabelecer-se no WQS e mostrar todo o potencial que lhe auguram. No ano passado bateu na trave da qualificação após uma temporada havaiana abaixo do razoável. Mas este triunfo coloca-o praticamente dentro do Tour em 2016, pois salta para os primeiros lugares do ranking e com uma boa margem para a concorrência.
Nos Açores Freestone mostrou o que é surfar de forma progressiva e ao longo do último dia foi aumentando o nível das suas performances. Alternando aéreos de excelente recorte técnico com manobras arriscadas no lip e de elevado grau de dificuldade, tudo isto com muita velocidade à mistura, o australiano de 23 anos quebrou finalmente o enguiço, venceu o compatriota e experiente Dion Atkinson na final e depois fez a festa. Jack Freestone estava sem palavras no final. O tão desejado resultado chegou finalmente. A resposta da Austrália à mais nova geração dos outros países dominantes do surf mundial prepara-se para assaltar o Tour no próximo ano. Finalmente...
Pedrinho a subir
O dia começou com as ondas a mostrarem que iríamos ter um dia de gala pela frente, mas os primeiros surfistas a entrarem na água sentiram alguma dificuldade em acertar logo como as condições. Os scores que iam saindo não faziam jus ao potencial das condições. Mas aos poucos as coisas foram acertando. E ficaram na perfeição precisamente no heat 3, onde o português Pedro Henrique teve uma exibição de sonho. Frente ao brasileiro e número 2 do ranking Alex Ribeiro, Pedrinho encontrou duas tubaças com saída e resolveu logo ali a questão. Com um 8,50 e um 8,60, o último resistente da armada lusa somou 17,10 pontos e deixou o adversário em combinação.
Um início de dia bastante auspicioso que garantia a passagem aos quartos-de-final. Aí teve pela frente o havaiano Sebastian Zietz, que havia deixado pelo caminho o seu colega de Tour e favorito Wiggolly Dantas. Até parece mais favorável para Pedrinho enfrentar o havaiano... Contudo, o ex-vencedor da Triple Crown estava elétrico e protagonizou uma das melhores prestações que o vimos fazer nos últimos tempos. Saiu tudo bem a Zietz, que terminou o heat com 18,33 pontos – fechou a disputa de uma forma incrível, com uma manobra marca registada bem progressiva que lhe valeu 9,77 pontos.
Pedrinho terminou a bateria em combinação, mas esteve até final na disputa, vendendo bem caro a derrota. O surfista luso-brasileiro terminou com 15,40 pontos e teve um heat bem positivo. Mas era praticamente impossível travar o grande momento do rival. O campeão europeu do WQS despediu-se assim do QS10000 açoriano de cabeça bem erguida, mas mais importante que isso foram os 7 mil dólares conquistados e os 5.200 pontos garantidos para o ranking, onde vai saltar para a entrada do top 20. A prova de que o trabalho compensa e de que o momento de forma por vezes tem de ser procura em campeonatos de menor expressão.
Um mini WCT
À medida que a prova ia avançado os scores elevados começavam finalmente a chegar e os duelos titânicos igualmente. Tivemos atuais membros da elite mundial em confronto direto, sendo que pelo meio também existiam alguns ex-tops do WCT e outros que o ambicionam e o vão fazer dentro de pouco tempo. O exemplo da última bateria dos quartos-de-final, onde o brasileiro Miguel Pupo, com direito a nota 10, bateu o norte-americano Kolohe Andino - ambos a necessitarem de pontos para garantirem a requalificação - é o melhor exemplo do nível que estava dentro de água.
Dion Atkinson, que caiu no ano passado do Tour, foi provavelmente o competidor mais silencioso mas também eficaz deste campeonato. Teve o score mais baixo entre os vencedores dos oitavos-de-final. O mesmo aconteceu nos quartos-de-final. Mas explodiu quando o tinha que fazer. Nas meias-finais teve pela frente Sebastian Zietz e colocou um ponto final no trajeto do havaiano com uma exibição bem inteligente, com boa escolha de ondas onde aplicou o seu power. Terminou com 15,67 pontos e garantia a primeira vaga da final.
Já Freestone foi avançando por uma segunda metade do draw bem mais complicada. A estrela australiana começou o dia a vencer Carlos Muñoz, num heat que prometia muito, mas onde o costa-riquenho acabou por ficar aquém das expectativas. Depois teve de suar bastante para eliminar o brasileiro Bino Lopes, um dos surfistas em melhor momento do WQS. O aussie começou o heat a abrir, mostrando todos os seus dotes técnicos a voar. Rapidamente amealhou um score de 17,40 pontos e colocou o brasileiro em combinação. Contudo, Lopes ainda respondeu à altura na parte final do heat. Primeiro saiu da combinação e já nos últimos instantes ficou a apenas 17 centésimos de virar a bateria. A estrelinha de campeão estava mesmo com Jack Freestone...
Nas meias-finais seguia-se mais um brasileiro. O mar nesta altura já não estava na sua fase mais clássica mas a qualidade ainda lá estava. Apenas era necessário saber escolhê-la. E Freestone fez isso melhor que o adversário. Com 16,23 pontos deixou Pupo em combinação e acabou com a tradição de os brasileiros vencerem nos Açores – a exceção havia sido a vitória de CJ Hobgood em 2011, precisamente num ano onde as ondas também estiveram de gala.
O alvo final foi Dion Atkinson, um compatriota bem mais experiente e que vinha a fazer uma exibição em crescendo. A ambição de chegar finalmente ao Tour contra a de lá voltar. Atkinson até começou melhor, garantindo a melhor onda da bateria, com 8,67 pontos. Mas Freestone haveria de dar a volta. Na parte final o mais velho ainda reagiu, mas com mais coração que cabeça. Com 15,50 pontos Jack Freestone acabou por superar o rival por apenas 50 centésimos. Os que chegavam para fazer a festa. Claro que no final ainda houve tempo para no final da entrevista enviar um beijo para a sua Alana. Mas o jovem australiano provou hoje finalmente que é por aquilo que faz na água que tem de ser reconhecido. Uma exibição merecedora da elite!
As ondas, as performances e os intervenientes. Tudo isto teve também nível de WCT no dia final do SATA Azores Pro. Foi nos Açores que assistimos às melhores ondas e à melhor ação do WQS de 2015 até ao momento. Ponto de exclamação. Bem grande! A festa segue agora para Cascais, onde na segunda-feira arranca o período de espera do Allianz Billabong Pro Cascais, outro QS10000 e o segundo evento das Portugueses Waves Series, que é liderada, logicamente, pelo vencedor deste evento açoriano.
SATA AZORES PRO FINAL RESULTS:
1 - Jack Freestone (AUS) 15.50
2 - Dion Atkinson (AUS) 15.00
SATA AZORES PRO SEMIFINAL RESULTS:
SF 1: Dion Atkinson (AUS) 15.67 def. Sebastian Zietz (HAW) 11.57
SF 2: Jack Freestone (AUS) 16.23 def. Miguel Pupo (BRA) 11.00
SATA AZORES PRO QUARTERFINAL RESULTS:
QF 1: Dion Atkinson (AUS) 15.77 def. Hizunome Bettero (BRA) 14.90
QF 2: Sebastian Zietz (HAW) 18.37 def. Pedro Henrique (PRT) 15.40
QF 3: Jack Freestone (AUS) 17.40 def. Bino Lopes (BRA) 17.23
QF 4: Miguel Pupo (BRA) 16.50 def. Kolohe Andino (USA) 9.50
SATA AZORES PRO ROUND OF 16 RESULTS:
Heat 1: Dion Atkinson (AUS) 7.33 def. Adam Melling (AUS) 2.33
Heat 2: Hizunome Bettero (BRA) 13.00 def. Brent Dorrington (AUS) 8.67
Heat 3: Pedro Henrique (PRT) 17.10 def. Alex Ribeiro (BRA) 3.17
Heat 4: Sebastian Zietz (HAW) 12.10 def. Wigolly Dantas (BRA) 9.93
Heat 5: Jack Freestone (AUS) 14.00 def. Carlos Munoz (CRI) 7.10
Heat 6: Bino Lopes (BRA) 11.93 def. Aritz Aranburu (ESP) 8.37
Heat 7: Kolohe Andino (USA) 13.33 def. Timothee Bisso (GLP) 3.90
Heat 8: Miguel Pupo (BRA) 11.77 def. Eric Geiselman (USA) 9.83
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