João Monteiro, Emanuel Barcelos e Andreia Marques, dois açorianos e uma madeirense na casa dos 30, que se conheceram na universidade, ergueram um projeto hortofrutícola que dá que falar.
Ousaram agitar a tradicional produção agrícola nos Açores. Acompanhe nas próximas semanas as histórias de produtores e produtos inovadores que estão a surgir e a evolução dos distinguidos no Prémio Intermarché Produção Nacional 2014, que este ano volta a ser um projeto do Expresso e da SIC Notícias
Da teoria à prática. Demoraram sete meses a construir uma exploração agrícola na freguesia do Rosário, em São Miguel, Açores. À primeira vista pode parecer simples. Mas esta história está longe disso. Fez-se da necessidade de encontrar um rendimento. Da vontade de três universitários não se limitarem à investigação e colocarem literalmente as mãos na terra. Queriam quebrar o modo tradicional de produção nos Açores.
Se dizem que a sorte também se procura, neste caso é sinónimo de "acreditar, persistência, teimosia e uma dose de loucura", brinca João Monteiro, natural de São Miguel, que ergueu a Easy Fruits & Salads, com os dois amigos. São jovens, agricultores, sócios de um projeto sustentável para levar produtos regionais de excelência à mesa dos açorianos.
Começaram a matutar no assunto em 2008. E o assunto era: produzir hortofrutícolas regionais e ter indústria de quarta gama (produtos lavados, embalados e prontos a consumir ou confecionar). Seguiu-se uma exaustiva tarefa de prospeção de mercado, a maioria junto de grandes superfícies e distribuidores. A oferta destes produtos era residual e toda importada, mas havia um crescente interesse dos consumidores.
Lançaram-se aos apoios comunitários através do Programa de Desenvolvimento Rural da Região Autónoma dos Açores (PRORURAL). Desempregados, sem capitais ou conhecimentos empresariais, enfrentaram dificuldades até obterem um pequeno financiamento bancário, exigência do programa. Em março de 2012 arrancaram com a construção da exploração e ao fim de sete meses estava concluída a obra.
São 16 estufas em 1,5 hectares, à qual se uniram mais 7000 metros quadrados para produção ao ar livre. Todos os dias há colheitas. Ao fim de quase três anos, em junho, vão chegar os equipamentos para iniciar a indústria de quarta gama. Mas durante todo este tempo não baixaram os braços à espera. Queriam rentabilizar desde logo o negócio e optaram pela matéria prima de primeira gama (produtos frescos) com uma diferença. Em vez de irem a granel, embalaram os produtos para associar à marca. Apostaram em variedades com caraterísticas distintas daquelas a que o mercado açoriano estava habituado. Tiveram muita aceitação, por exemplo, com as alfaces multifolhas, primeiro produto que lançaram para o mercado, ou os pimentos amarelos ou laranjas, produzidos esporadicamente na região.
A sustentabilidade é uma das suas marcas. Usam um sistema integrado de produção, através do uso racional de recursos hídricos, através da captação e armazenamento da água da chuva para rega. Fazem análises periódicas aos solos para fertilizações equilibradas. E até uma alfaia agrícola construíram de raiz.
Os produtos já são vendidos na Terceira, Faial e Santa Maria. A distribuição pode levá-los ao continente e já há contactos nesse sentido. Cientes de que não têm capacidade para consumo de massas, preferem falar em nichos, como mercados gourmet. Até porque todo o trabalho de bastidores é também assegurado por eles nas "horas vagas". Não têm fins de semana: pensam na estratégia, no marketing, desenham e produzem.
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