sábado, 23 de maio de 2015

Quem é o Açoriano de 26 anos que está no fórum do BCE



O português Miguel Faria e Castro é um dos oito jovens seleccionados para falar aos banqueiros centrais mundiais, hoje, em Sintra.

É português, mas vive em Nova Iorque, onde está a fazer o doutoramento na New York University. Aos 26 anos, Miguel de Faria e Castro confessa que nunca teve uma plateia do nível daquela que terá hoje em Sintra, onde os olhos de alguns dos maiores banqueiros centrais do mundo vão estar, por momentos, postos em si. Vai falar sobre intervenções dos bancos centrais e financiamento soberano. Em conversa com o Económico, garante que "de todas as medidas não convencionais de política monetária, o ‘quantitative easing' "é o menos orientado para ajuda directa aos Estados". 

Miguel é um dos oito jovens economistas seleccionados para fazer hoje uma apresentação no fórum anual de bancos centrais, organizado pelo Banco Central Europeu (BCE) em Sintra. Vai falar sobre "Intervenções dos bancos centrais, exigência de colaterais e custo do financiamento soberano". O estudo, desenvolvido em conjunto com Matteo Crosignani, da Stern Business School - onde Miguel dá algumas aulas - e com Luís Fonseca, do Banco de Portugal, analisa o impacto de "um conjunto de medidas de política monetária não convencional lançadas pelo BCE no final de 2011 e início de 2012, as LTRO's [Operações de Financiamento de Longo Prazo]". Uma estratégia que, explica, teve "implicações importantes" na gestão da dívida portuguesa, cuja curva de rendimentos sofreu um choque "assimétrico". 

Três anos depois, a autoridade monetária foi mais arrojada e lançou um programa de compra alargada de dívida, o ‘quantitative easing'. Fê-lo para estimular o crédito e combater o risco de deflação, mas pelo caminho ajuda os Estados a financiarem-se a mínimos históricos (ver texto ao lado), motivando críticas de países como a Alemanha. 

Miguel concorda que "indirectamente", o BCE acaba por estar a "apoiar" os Estados. Mas lembra que o BCE já comprou dívida pública em 2011 e 2012 - "tanto o SMP [Securities Markets Programme] como as OMT [Outright Monetary Transactions] foram programas de compra directa e exclusiva de títulos de dívida pública nos mercados secundários" - e lembra que as próprias LTRO ajudaram a "reduzir custos de emissão".

Além disso, o programa do BCE é especialmente importante numa altura em que persistem os rumores de uma saída da Grécia do euro, certo? Mais ou menos. O jovem economista considera que o facto de a moeda única estar hoje "muito mais protegida" de um choque grego se deve mais às "decisões dos próprios agentes financeiros da zona euro, que voluntariamente reduziram as suas exposições à dívida grega". 

No entanto, Miguel não tem dúvidas em concluir que a compra de dívida pelo BCE é positiva. Pode é trazer algumas dificuldades em Setembro do próximo ano, quando chegar a altura de se retirarem os estímulos. "O BCE pode seguir os passos da Reserva Federal e comprometer-se a manter as taxas de juro baixas após a recuperação mesmo depois do fim do programa, mas não é claro se isso será compatível com o seu mandato", avisa.

in economico.sapo.pt

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