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Flores, a ilha esponja



Esta é a história de um enamoramento que começou com a paisagem que esta fotografia documenta, vista vezes sem conta na internet, e que se concretizou numa inesquecível viagem de uma semana ao ponto mais ocidental do território nacional.


AMIGOS DOS PIRATAS? QUE REMÉDIO...

A densidade populacional das Flores é hoje muito inferior à média açoriana.

Desde o povoamento, em meados do século XV, que há registos de queixas da população desta ilha em relação ao isolamento a que está sujeita.

Os barcos que a abasteciam não tinham data certa para chegar, quer pela instabilidade do tempo quer pela ausência de um porto seguro para aportar, e desde os primeiros tempos que os florentinos se habituaram a desenrascar.

Às vezes até com uma ajudinha dos piratas, habituais frequentadores destas latitudes. Em certas ocasiões levaram à letra a velha máxima de "se não podes vencê-los, junta-te a eles" e em troca de água doce e mantimentos sempre conseguiam alguns produtos que não existiam na ilha. E certamente que sem meios suficientes para se defenderem esta era uma opção bem mais inteligente do que deixarem-se saquear.


HÁ O JET SET AÇORIANO, E HÁ AS FLORES E O CORVO

Se pensarmos que só em 1992, com a inauguração do porto das Lajes a ilha ganhou um ancoradouro seguro, e que há apenas três décadas quase não existiam estradas dignas desse nome, percebemos o sentimento de abandono desta gente.

Os florentinos e os corvenses talvez tenham razão quando afirmam que se sentem excluídos do jet set - as outras sete ilhas do arquipélago - e que vivem no far west da Europa.

Até a rede de telemóveis só foi uma realidade nas Flores no início deste século, aquando de uma visita do Presidente da República, Jorge Sampaio. Na altura instalaram uma antena provisória para servir a comitiva presidencial e só os muitos pedidos da população sensibilizaram o Presidente a ‘mexer os cordelinhos’ para tornar a antena definitiva.

Mesmo nos dias de hoje a operadora NOS não tem rede na ilha.

Soube-o quando aterrei em Santa Cruz e liguei o telemóvel. Ainda pensei que a ausência de sinal fosse consequência do sítio onde me encontrava mas, quando perguntei a um local, fiquei a saber que era uma realidade em toda a ilha. Valeu-me uma loja da Meo perto do aeroporto onde pude comprar um cartão pré-pago, que me permitiu manter o contacto com o mundo na semana em que permaneci na ilha.


POR AQUI O MEDO NÃO É QUE A TERRA TREMA MAS SIM QUE DESLIZE

No grupo ocidental - Corvo e Flores - não há registos de sismos nem de atividade vulcânica desde a ocupação humana. São as únicas ilhas açorianas que estão sobre a placa tectónica americana o que explica a sua estabilidade. O resto do arquipélago encontra-se implantado sobre a junção das placas americana, africana, e euro-asiática, que estão constantemente em movimento, havendo registos de tremores de terra quase diários.

Nesta ilha o medo das pessoas não é que a terra trema mas sim que desmorone.

Os solos estão saturados de água e os deslizamentos de terras são frequentes. Em 1987, uma derrocada na Ponta da Fajã destruiu algumas construções, o que levou as autoridades a classificar aquela zona como de alto risco. Tentaram mesmo obrigar os habitantes a abandonar aquele local, mas tal intento nunca foi conseguido e hoje várias pessoas habitam ali em permanência.



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