sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Documentário diz que atuneiros açorianos foram recrutados para a Batalha de Pearl Harbor


Quase cinquenta barcos de pesca de atum (atuneiros), com trabalhadores emigrantes açorianos em San Diego, na Califórnia, foram recrutados pela marinha de guerra dos EUA juntamente com outros 600 tripulantes, após o ataque a Pearl Harbor. Estávamos em 1942. Os pormenores da história são relatados no documentário “Portuguese in California”, editado em DVD. 

O documentário, em versão bi-lingue, é assinado pelo jornalista Nelson Ponta-Garça, luso-descendente residente nos EUA, que tem uma produtora própria, a “NPG Productions”. 

O jornalista, filho de açorianos da ilha de São Jorge, nos Açores, explicou à agência Lusa que os atuneiros – que sustentavam uma indústria de dimensão razoável em San Diego – foram transformados em barcos de guerra depois do ataque de Pearl Harbor, durante a II Guerra Mundial. 

“A 15 de fevereiro de 1942, dois meses depois de os aviões militares japoneses bombardearem a frota do Pacífico dos EUA, em Pearl Harbor, a marinha [norte-americana] requisitou os atuneiros para serviço militar. Cerca de 600 pescadores de descendência portuguesa voluntariaram-se para prestar serviço militar”, explicou. 

Segundo Nelson Ponta-Garça, depois de serem utilizados na guerra, 16 destas embarcações foram transformadas para fazer parte das patrulhas costeiras norte-americanas. 

O luso-descendente frisa que, atualmente, nenhum destes barcos ligados à pesca do atum está no ativo: uns estão em museus, outros foram abatidos. 

Os emigrantes açorianos representam 90% da comunidade portuguesa radicada na Califórnia e instalaram-se, essencialmente, em localidades como Silicon Valley, San Joaquim, Los Angeles, San Diego, Sacramento e San Francisco. 

Nelson Ponta-Garça lembra também que os primeiros açorianos começaram a chegar à Califórnia para trabalhar em barcos baleeiros e, depois de 1857, San Diego teve um papel muito significativo na caça à baleia. 

A indústria atuneira em San Diego, que teve início no quintal de um emigrante açoriano, chegou a garantir dois mil postos de trabalho a cidadãos portugueses residentes nos EUA, relata ainda o jornalista. 

De acordo com a pesquisa realizada pelo luso-descendente, em 1851, o açoriano Manuel F. Cabral, uma das maiores referências da emigração portuguesa na Califórnia, desembarcou em Poin Loma, criando com 25 outros pescadores a Companhia Portuguesa de Pesca. 

Em 1913, Joseh Azevedo fundou a sua primeira fábrica de conservas de atum, que, posteriormente, se tornaria na Companhia de Embalagens de San Diego e a maior indústria de atum dos EUA. Na I Guerra Mundial as encomendas à indústria de atum de San Diego, para abastecer as tropas norte-americanas, eram de grande dimensão, tendo Manuel Medina sido um dos pioneiros no abastecimento. 

Na Califórnia, durante as décadas de 50, 60 e 70 do século XX, estimava-se que houvesse cerca de 150 embarcações ligadas à indústria do atum e 2.500 pescadores portugueses. Nelson Ponta-Garça afirma que os pescadores mais experientes chegavam a conseguir vencimentos anuais que oscilavam entre 50 e 80 mil dólares. 

“Hoje toda a gente conhece San Diego, com cerca de três milhões de habitantes, como uma das cidades mais bonitas dos EUA e um ponto turístico. Esta nova realidade, a par de restrições ambientais, tornou praticamente impossível a pesca do atum”, frisa o jornalista.
A comunidade lusa está hoje ligada ao abastecimento de combustíveis, bem como a outras áreas de atividade da economia da Califórnia, um dos estados norte-americanos que mais recebeu emigrantes oriundos dos Açores nos EUA, a par do Massachusetts.

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