Por Raquel Lito
À mesa de um restaurante na ilha de São Miguel, serviam-se queijos da região e cataplana de peixe. Um menu banal para os açorianos, mas exótico para Konstantin Kazban, pouco habituado a tanta variedade nas ementas de São Petersburgo. O empresário russo, de 44 anos, estava de férias mas não conseguia abstrair-se do potencial de negócio do refrigerante de maracujá que lhe serviam nos Açores. Primeiro fixou-se no rótulo da garrafinha verde: tinha ingredientes naturais? Sim. Depois deu o primeiro golo: a acidez e o açúcar estavam na medida certa? Nem mais. Teve uma ideia: que tal convertê-lo num produto gourmet? Até o nome soava vagamente a russo!
Chama-se Kima e é uma bebida típica produzida pela Melo Abreu – fábrica de cerveja a funcionar em Ponta Delgada desde 1893. Nas ilhas, é a antítese do conceito gourmet. Vende-se em qualquer tasca ou café, a cerca de 50 cêntimos a garrafa pequena, e tem um consumo tão vulgar quanto a bica no continente.
Konstatin começou as negociações logo nesse almoço, com aquele que viria a ser seu intermediário: o operador turístico Alexander Plesov, de 29 anos, com nacionalidade russa e portuguesa. Alexander acompanhou-o na refeição porque representava a agência de viagens destinada a promover os Açores como destino turístico na Rússia. Estava em sintonia com o empresário: também sonhava exportar produtos açorianos para o país de Vladimir Putin, que actualmente está a sofrer sanções económicas da União Europeia e dos Estados Unidos por causa do conflito na Ucrânia, e que reagiu na semana passada boicotando a entrada de produtos alimentares destes países.
Férias com sabor a maracujá
Alexander garante à SÁBADO que os refrigerantes não serão afectados pela directiva. E tem outros planos. “Vamos aproveitar este tempo morto e prepararmo-nos para introduzir no mercado russo alguns produtos que agora estão proibidos, como a carne.”
Konstantin Kazban, que rapidamente fez amigos nos Açores e que apreciou a praia de Santa Bárbara e as Furnas, não só encontrou um parceiro de negócio como um destino regular de férias. Desde então, passou a visitar a região de dois em dois meses e até comprou uma casa em São Miguel. À mesa, manteve-se fiel à bebida de maracujá.
Faltava dar o próximo passo: criar uma empresa. “Em Fevereiro abrimos a Russian Azorean Trading Company, de exportação de produtos para a Rússia”, conta Alexander. Um ano e quatro meses depois daquele almoço, o negócio consumou-se. Este mês chega a São Petersburgo o primeiro contentor, por via marítima, com 13 mil litros de Kima, em garrafas de um litro, 0,25 l e 0,33 l. Entre 15 e 18 de Setembro, o refrigerante voltará a ter destaque na feira de alimentos de Moscovo, a World Food Moscow. “Será a primeira vez que haverá um stand dos Açores”, avança Alexander.
Queijos e compotas gourmet
O intermediário nega o rótulo de multimilionário do seu sócio russo. Prefere defini-lo como “gerente de um grupo de empresas de São Petersburgo, que actua na área de importação e exportação de produtos e ingredientes alimentares.” Por exemplo, é fornecedor de gigantes, como a Kentucky Fried Chicken, Nestlé, Heinz, Pizza Hut ou Starbucks.
Agora, acrescentará à lista marcas açorianas. Marcas, leu bem: Konstantin não se ficará só pela Kima. Os queijos, as compotas e o chá Gorreana também poderão chegar às lojas gourmet e a restaurantes de Moscovo e São Petersburgo.
Konstantin Kazban (na foto)
O russo, de 44 anos, gere empresas em São Petersburgo na área da importação e exportação de produtos alimentares. O empresário quer continuar a investir no arquipélago criando um empreendimento turístico em São Miguel. Conceito? Turismo medicinal. Juntará águas termais e spa, mas também médicos e nutricionistas, com planos personalizados para cada cliente. Pondera ainda criar uma série de ocupações como os passeios pedestres.
in Sábado
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