Foto de Pedro Borges
"Quando lemos os artigos sobre os Açores não deparamos com apreciações geoestratégicas ou geopolíticas. A National Geographic Magazine não é a Foreign Affairs, não é uma revista de política internacional, mas o que é facto é que há um grande cuidado e persistência em mostrar os Açores", afirmou à Lusa Carlos Riley, docente e investigador da Universidade dos Açores, para quem "o potencial geoestratégico" do arquipélago "está sempre lá contido subliminarmente".
Data de junho de 1919 o primeiro artigo sobre os Açores publicado na revista da National Geographic Society, instituição norte-americana fundada em 1888.
O pretexto foi a "primeira tentativa bem-sucedida" de atravessar o Atlântico norte em três hidroaviões CURTISS da Marinha dos EUA, que fizeram escala nos Açores (Horta e Ponta Delgada), tendo apenas um dos aparelhos completado a travessia até Lisboa.
"O artigo faz uma apresentação dos Açores, chamando a atenção para os aspetos etnográficos, pitorescos, as tradições, os costumes, a paisagem, as casas e a forma como as pessoas se vestiam", disse Carlos Riley, acrescentando que o trabalho, ilustrado com várias fotografias de interesse histórico, foi escrito por um antigo cônsul norte-americano na ilha de São Miguel, Arminius T. Haeberle.
Para o investigador, que se dedica ao estudo da presença norte-americana nos Açores e à história da navegação aérea transatlântica na primeira metade do século XX, muita da informação recolhida e publicada pela National Geographic Magazine, sobretudo entre as décadas de 1920 e 1980, acaba por ter "uma dimensão instrumental importante para os desígnios da política externa dos EUA".
Segundo explicou, antes da segunda guerra mundial, quando o Office of Strategic Services (OSS) e a Central Intelligence Agency (CIA) ainda não estavam constituídos, poucas instituições possuíam tanto conhecimento acumulado sobre territórios estrangeiros como a National Geographic Society.
"A atenção que a National Geographic começa a dar aos Açores a pretexto da travessia transatlântica é muito do género: temos de olhar mais de perto este grupo de ilhas que estão aqui no meio do Atlântico, entre o Novo Mundo e a Europa", refere Carlos Riley, acrescentando que os americanos passam a considerar o arquipélago "muito como uma fronteira avançada do seu território".
Foram depois publicados vários outros artigos, com destaque para 1935, quando surgem 26 fotografias de várias ilhas dos Açores, 1958, aquando da erupção do vulcão dos Capelinhos, no Faial, e o período pós-revolução de 1974, devido ao fenómeno do independentismo.
Para Carlos Riley, o valor geoestratégico dos Açores não emerge, "como muitos julgam", com a segunda guerra mundial, porque, "como bem sabem os historiadores do Atlântico e da expansão marítima, já o tinha desde o século XVI".
"Os Açores não têm petróleo no sentido literal do termo, mas o grande petróleo dos Açores é a sua geografia, é a sua posição estratégica. Não obstante os avanços tecnológicos, não me parece que as pessoas possam concluir, precipitadamente, que os Açores hoje tenham perdido o seu valor geoestratégico", afirmou o investigador, alegando que este vai muito para além da mera utilização militar.
Carlos Riley, doutorado em História Contemporânea, considerou que os Açores são "um ponto privilegiado à escala global", por exemplo, para a observação e estudo nos domínios da climatologia, oceanografia e aeroespacial.
Atualmente, a revista National Geographic é publicada em mais de 30 idiomas, sendo que desde 2001 Portugal conta com uma edição própria, que também já dedicou vários artigos e suplementos aos Açores, essencialmente para dar a conhecer o potencial natural e científico das ilhas.
Sem comentários
Enviar um comentário