quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Tradição de Natal "o Menino mija" resiste nos Açores



Tradição de Natal "o Menino mija" resiste nos Açores 

A tradição do Natal açoriano "O Menino mija", que junta grupos em peregrinação por casas de amigos e familiares, tem perdurado no tempo, constituindo um símbolo do património etnográfico do arquipélago.
"Há tradições que têm vindo a sofrer uma quebra ao longo do tempo, mas sociologicamente esta é uma tradição que perdura no tempo e acredito que irá perdurar, porque envolve o convívio e a proximidade das pessoas numa quadra natalícia que assim se propicia. Acredito que por haver mais disponibilidade das pessoas e mais sensibilidade há esse tipo de interação", afirmou o sociólogo Miguel Brilhante, em declarações à Lusa.

Entre o dia 24 de dezembro e o de Reis (06 de janeiro), vários grupos de homens e mulheres andam de casa em casa visitando familiares e amigos e degustando doces e licores tradicionais, que estão sempre expostos por esta altura nas mesas.
Antes de entrarem, e chegados a estas casas, os grupos perguntam: "O Menino mija?".

"Pode parecer estranho o termo para as pessoas mais leigas na matéria, mas esta frase ou a célebre pergunta nas casas das pessoas acaba por ser uma forma de abrirem as suas portas e partilharem o que têm nesta época natalícia", explicou Miguel Brilhante, acrescentando que esta visita às casas, desde o Natal até aos Reis, acaba por ser a receção de amigos e familiares que muitas vezes não têm lugar à mesa no Natal, por ser mais restrito à família.

Acaba por "haver sempre algo para oferecer nestas casas" e "há sempre algo para partilhar", disse ainda o sociólogo, lembrando que nas mesas, além dos "licores e dos figos passados", estavam sempre presentes "as laranjas, uma tradição que terá advindo da importância" do citrino nas ilhas em meados do século XVIII e XIX, durante o próprio "ciclo da laranja, tão característico dos Açores".
"Há sempre uma porta aberta e algo para partilhar, o que significa que o contexto em que Jesus Cristo nasceu acaba por ter aqui um simbolismo muito evidente na forma como se transporta para este tipo de tradição", realçou.

Em todas as casas, "independentemente dos seus contextos sociais, há sempre alguma coisa para partilhar" e, segundo o sociólogo, esta é "uma daquelas tradições que se expande sem data marcada".
"Não prevejo que seja uma tradição que esteja suscetível de sofrer alguma quebra, pelo contrário, julgo que nos tempos que correm é uma tradição que se irá fortificar muito mais", referiu.

O mundo rural "orgulha-se de manter viva" esta tradição, mas nas freguesias e centros urbanos também se ouve por esta altura do ano a célebre pergunta: "O Menino mija?".

in DN

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